terça-feira, 29 de junho de 2010

Vira-latas são os cães preferidos dos paulistanos

Vira-latas são os cães preferidos dos paulistanos
FLÁVIA MANTOVANI
ROBERTO DE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
Eles não são puros e têm histórico de passagem pelas ruas. Seu nome é associado ao lixo e aparece no dicionário como sinônimo de "sem classe, sem vergonha". Ainda assim, e talvez com a ajuda de uma abanadinha de rabo, os vira-latas conseguiram driblar a má fama: estão na moda e fazem companhia a milhares de moradores da cidade, de todas as classes sociais.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Datafolha, é esse o cão mais comum na casa das famílias paulistanas. O levantamento entrevistou 613 pessoas, numa amostra representativa da população de São Paulo com 16 anos ou mais.
Por ser fruto de uma mistura de raças, o vira-lata tem características muito mais variadas do que qualquer cachorro puro. Mas, na aparência física, é possível identificar um perfil médio: a maioria pesa de 10 kg a 20 kg, tem pelo curto e cor escura --é o pretinho básico, como chamam alguns protetores de animais.
Para o zootecnista e especialista em comportamento animal Alexandre Rossi, autor do livro "Adestramento Inteligente" (ed. Saraiva; 240 págs., R$ 31,40, 2009), o porte médio ajuda a sobreviver nas ruas. "Ele não é tão grande a ponto de demandar muito alimento nem tão pequeno a ponto de ser indefeso em brigas e perder na competição com outros machos para cruzar", explica.
O comportamento também muda substancialmente de um vira-lata para o outro, mas aqueles que passaram pela rua costumam ser mais espertos do que os criados em casas ou apartamentos. "O animal que passou pela rua teve que se virar, ou não estaria vivo", diz o veterinário Wilson Grassi, diretor da Anclivepa (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais) e gerente-executivo do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.
Segundo Alexandre Rossi, a mistura de raças costuma "produzir" um cão com competências mais equilibradas. Enquanto um animal puro pode ter mais aptidão para guarda e outro para companhia, por exemplo, o vira-lata teria uma média entre as habilidades --o que também o torna menos previsível, uma desvantagem na opinião de algumas pessoas.
A genética explica também por que os vira-latas, conhecidos como SRD (sem raça definida), são mais resistentes a doenças. Existem problemas de saúde determinados por genes recessivos, que devem estar presentes em dupla para que as complicações se manifestem.
Enquanto os animais mais puros têm mais tendência de portar os dois genes, estes acabam sendo "diluídos" com a mistura de raças.
Um problema que vem aumentando em cães de raça nos últimos cinco anos, por exemplo, é a alergia, segundo Roberto Monteleone, veterinário de pequenos animais há mais de 30 anos. "Há criadores que cruzam animais aparentados. Muitos nascem com imunodeficiência e pegam infecções com facilidade. No caso do vira-lata, há uma chance muito menor de que isso aconteça."
Outra explicação é a própria seleção natural. Quando o cachorro é de raça, acaba procriando mesmo não sendo muito saudável, pois recebe mais cuidados. Já na rua só procriam os vira-latas mais fortes, que sobrevivem às condições adversas e, por isso, geram filhotes mais resistentes.
Isso não quer dizer, no entanto, que eles precisem de menos cuidados do que um cão de raça. "Tem que vacinar, levar ao veterinário, dar boa alimentação. É um cão como outro qualquer", alerta Cida Lellis, presidente da ONG Clube dos Vira-Latas.

Johnny Duarte/-
Revista sãopaulo - matéria sobre vira-latas
Carlota Joaquina, 1, moradora do Morumbi, foi adotada em uma feira de animais
São Paulo
Segundo o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) de São Paulo, há 2,5 milhões de cachorros domiciliados na cidade. O número vem crescendo, em média, 6% ao ano, e estima-se que, em 2020, atinja 4,5 milhões. Os dados são de uma pesquisa que vai virar livro, feita pela USP de 2007 a 2009 em parceria com o CCZ e com regionais de saúde. Foram visitados quase 12 mil domicílios.
O professor de veterinária Ricardo Dias, autor do estudo, diz que não surpreende saber que o SRD é o cão mais comum. "Vimos que só 26% dos cachorros foram comprados. O restante foi adotado", diz.
A adoção dos sem raça, aliás, está virando moda entre paulistanos de classes mais altas, e agora eles dividem espaço com primos "ricos" como poodles, lhasas e labradores. "Os animais de rua não ficam mais só na periferia. Temos visto muito mais vira-latas nos parques, junto com os cães de raça", afirma a veterinária Cíntia Tonelli, fundadora da ONG Vira-Lata É Dez.
Em 2003, quando foi criada, a entidade conseguia doar quatro cães por mês --hoje são cerca de 16. O problema é que eles também têm tido mais animais para recolher.
Desde 2008, não é mais permitido, no Estado de São Paulo, sacrificar animais apenas por estarem na rua -a eutanásia só pode ser feita em casos extremos, de doenças incuráveis ou infectocontagiosas. Os animais recolhidos pelo CCZ ficam disponíveis para adoção --são doados, em média, 50 por mês.
A ONG Clube dos Vira-Latas é outra que aumentou as doações: eram cerca de dez por mês há cinco anos e agora são entre 40 e 50. "As pessoas estão acordando para o problema dos animais abandonados na cidade e vendo que o bicho não precisa ser comprado e ter raça", diz Cida Lellis.
Mas os adotantes ainda procuram perfis específicos: filhotes, de porte pequeno, peludinhos e que não sejam pretos, justo o contrário da maioria dos cães que estão nos abrigos. Casais jovens, com ou sem filhos, são os adotantes mais comuns na cidade de São Paulo.

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/758026-vira-latas-sao-os-caes-preferidos-dos-paulistanos.shtml

domingo, 27 de junho de 2010

Bingo em prol dos animais

Olá pessoal,

Estamos aqui novamente convidando toda galera pra participar conosco do Bingo Beneficente da CVL (Cãopanhia Vira Lata) em prol dos animais recolhidos das ruas e que ainda aguardam um bom lar!

Não temos apoio financeiro $$, mas ajudamos alguns animais carentes e contamos apenas com a participação e colaboração de simpatizantes da causa promovendo eventos periodicamente para manter cerca de 40 animais em lares transitórios enquanto não são adotados definitivamente.

Aceitamos doações de prendas (todo mês realizamos eventos), doação de rações para cães e gatos, medicamentos, cobertores velhos, comedouros, casinhas, coleiras, etc.

Temos lindas prendas para o evento de Junho, compareça e comprove!

Participem! Divulguem! Colaborem!

Obrigada

Abraço à todos, lambidas e rom rons de nossos protegidos!


Telma Rodrigues

Cãopanhia Vira Lata
msn: telmilita@hotmail.com
Mais Amor e mais respeito
pelos animais
12 8804 2321
São José dos Campos - SP

http://fotolog.terra.com.br/caopanhiaviralata

participem:
http://br.groups.yahoo.com/group/PROTETORESVALEDOPARAIBA/

http://www.blogcatalog.com/blog/bichos-do-vale


animais para doação sempre estarão no meu álbum do orkut:
http://www.orkut.com.br/Main#AlbumZoom.aspx?uid=4660044955196597245&aid=1233143223&pid=1233168827656

sábado, 26 de junho de 2010

FECHA INDÚSTRIA DE CÃES PARA LABORATÓRIO NA ITÁLIA

Fonte: mensagem enviada por flopinhodasabi@ gmail.com

http://www.oipaital ia.com/vivisezio ne/notizie/ chiudemorini. html

A empresa Morini di S. Polo-Italia, especializada na criaçao de animais de laboratorio e por anos no centro de protestos de animalistas, cessa suas atividades. Os 283 caes que restaram juntamente com 700 ratinhos foram comprados pela Prefeitura e doados à associaçao " Vita de Cani" de Milao, que faz parte da OIPA (Organizaçao Internacional pela Proteçao dos Animais). Um acordo entre Giovanna Soprani, titular da empresa e o prefeito de San Polo, Mirca Carletti, escreve a palavra final sobre o caso dos caes beagles que por anos suscitou protestos em nivel nacional, debates, embates e violentas polemicas no mundo dos animalistas e entre as associaçoes que lutam pela defesa dos animais, como Enpa e Lav. Os animais terao assistencia veterinaria e serao colocados em reabilitaçao antes de serem disponibilizados para adoçao.

Passaram-se exatamente 8 anos desde quando o embate entre animalistas e a empresa Morini teve inicio. Em junho de 2002, um caminhao com 56 filhotes de beagles a bordo, proveniente de San Polo, foi bloqueado na fronteira com a Austria: os caes seriam destinados às mesas de experimentaçao de um laboratorio farmaceutico de Hamburgo.

Toda a campnha contra a empresa Morini voce pode ler na pagina oficial da Oipa, em italiano:

http://www.oipaital ia.com/vivisezio ne/morini. html

Esta é mais uma historia de sucesso na luta pelos direitos animais. Quase mil vidas salvas. 8 anos de luta. Varias organizaçoes animalistas envolvidas.

Por isso que nossa luta vale à pena. Com perseverança e força de vontade, podemos sim mudar esse mundo cujo centro da exploraçao pelo homem estao a Natureza e seus animais.

Instituto Nina Rosa - Projetos por amor à vida
Organização independente sem fins lucrativos
http://www.institut oninarosa. org.br

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Animal abandonado: O que eu faço?

Esta é a pergunta que nunca se cala quando encontramos um animalzinho abandonado e queremos ajudar. Depois que passa a comoção e muitas vezes o choque pelo estado do animal, seguidos pela revolta "como alguém teve coragem de abandonar este bichinho?", nos veem o sentimento e a vontade de fazer alguma coisa. Ótimo, você já deu o primeiro passo. Mas e agora?

Bem, primeiro este animal precisa ir para algum lugar. Não posso simplesmente resgatar sem ter para onde levar. SE na minha casa não pode, preciso contactar meus amigos, parentes, enfim, alguém que possa hospedar essa bichinho, pois acreditem, as casas dos protetores de animais e os abrigos estão lotados.

Muitas vezes ficamos nervosos quando as ONgs não podem ajudar. Ora, eles não são obrigados a recolher! E muitas vezes estão lotados. Tenho uma amiga protetora que tem 15 na casa dela. Por isso você deve arranjar um lugar para esse bichinho antes de resgatar. Esse é o passo mais importante.

Feito isso, hora de levar esta criatura ao veterinário, para checar a saúde, ter os primeiros socorros, essas coisas e até tomar um bom banho e fazer uma tosa se for o caso.
Depois, se ele não estiver doente, aí sim vamos leva-lo para seu lar temporário, alimentar, arrumar uma caminha quente e esperar que ele logo vai se acalmar.

Pronto! Agora vem a parte mais difícil: Arranjar um lar!

Para isso, divulgue na internet, tire muitas fotos, faça cartazes e cole em clínicas veterinárias e Pet shops com seu nome e um telefone para contato. Entre em contato com as ONgs e leve o bichinho para as feiras de adoção. Não se esqueça que para ir às feiras ele deve estar em perfeita saúde, limpo e vermifugado.

Conseguir uma castração é importantíssimo, pois animal castrado é melhor para doar e você ainda colabora para diminuir a população de animais abandonados. Para isso você pode pedir ajuda de ONgs, que também ajudam com as vacinas e com a divulgação para a doação.

Assim, para terminar, é muito importante nos sensibilizarmos, mas não basta apenas decidir tomar um atitude, é preciso saber fazer, e não apenas recolher o animal e depois ficar empurrando para as Ongs. Se todos pudessem resgatar um animal apenas, não teria nenhum mais na rua. Pense nisso e divulgue a castração, ela é a única forma de pormos um fim a estes casos de abandono.


Não compre, adote!!!!!!
Não se omita, tome uma atitude!!! mãos à obra!

beijos!

juliana

Como orientar pessoas para o atendimento ao animal

CURSO EM SP

Como orientar pessoas para o atendimento ao animal

Ministrado por Maurício Varallo, editor, ativista pelos direitos dos animais, coordenador dos sites Olhar Animal, Sentiens Defesa Animal e da revista eletrônica Pensata Animal, colaborador do Instituto Nina Rosa.

O curso é gratuito e visa capacitar protetores para orientar corretamente pessoas que necessitam de ajuda para atender animais (casos de abandono, maus-tratos, castração, resgate e outros). Trataremos também da criação do Grupo de Orientação para o Atendimento ao Animal em São Paulo/SP.

Atenção: este curso não é sobre como cuidar de animais!

Próximo sábado, 26 de junho, das 15 às 17h

COMPAREÇA!

LOCAL

Matilha Cultural

Rua Rego Freitas, 542 - São Paulo/SP

A 500 mts. da estação República do Metrô (veja mapa clicando aqui).

Avisos

Não haverá emissão de certificados

Leve material para anotações

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Muito obrigada a todos!

Pessoal,

Os filhotes que estavam sob a guarda da Laura e Eliane (aqueles das fotos) foram todos doados.

Muito obrigada a todos que divulgaram e ajudaram de alguma forma.

beijos para todos!

Juliana

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aprovada Lei que permite TORTURA de animais.

Prezados amigos,
Por favor assinem e repassem para o máximo de pessoas possível.
Contamos com a colaboração e ação de todos.


Aprovada Lei que permite TORTURA de animais.

O Deputado Edson Portilho, do Rio Grande do Sul, teve a desventura de criar um projeto de lei que permite que os animais sejam torturados e sacrificados em rituais religiosos.
O parlamentar, sabendo que os protetores dos animais se manifestariam, fez a seguinte trama: marcou a apresentação para votação da lei num dia de julho, mas fez um chamado urgente e marcou a reunião às pressas, mais cedo. Os únicos avisados foram os demais deputados. Ou seja: não havia defesa.
Os animais não tiveram oportunidade de ter pessoas que os representassem. Quem poderia responder por eles? E aconteceu o que mais temíamos: houve 32 votos contra os animais e apenas 2 a favor. Os animais agora poderão ter olhos e dentes arrancados e cortados em vários pedaços para fazer o tal Banho de Sangue. Os animais que não servem mais para o ritual são mortos a sangue frio, conscientes e sem qualquer anestesia.
Por isso, vamos garantir que o deputado nunca mais consiga se reeleger. Divulgue, para que Edson Portilho não se eleja para mais nenhum tipo de cargo.
Fonte : http://url4.eu/2mOOz


Assine a favor da defesa da vida animal
Ajudem a Lei de proteção animal:
''É rapido, so preencher o formulario no link abaixo''
- http://www.leideprotecaoanimal.com.br/
Não podemos deixar uma barbaridade dessas assim.
Precisamos de 500 MIL assinaturas

domingo, 20 de junho de 2010

Fauna pede Promotoria de Defesa Animal

Fauna pede Promotoria de Defesa Animal

Por: Luciana Almeida, Infosentiens.

O Grupo Fauna de Proteção dos Animais de Ponta Grossa está mobilizado para buscar a instalação da Promotoria de Defesa Animal no Paraná. O objetivo é garantir que casos de maus tratos tenham o encaminhamento correto, com a devida aplicação de punição aos responsáveis.

"Sempre que recebemos denúncias ficamos sem uma resposta dos órgãos públicos competentes, apesar de efetuarmos as denúncias", complementa uma das voluntárias do Fauna, Andresa Jacobs. Ela explica que o movimento pela criação de promotoria específica foi iniciado em São Paulo e Minas Gerais. "Esse movimento foi iniciado por ONGs paulistas e de Minas Gerais, agora vamos nos mobilizar para que essa instalação também aconteça no Paraná".

Isabele Futerko, mais uma voluntária do Fauna, reforça que a ação dos órgãos públicos competentes, quando o assunto é maus tratos a animais, quase sempre não acontece. Como exemplo, ela cita caso de um cachorro utilizado para proteger um condomínio residencial em construção, na região do Santa Maria, em Ponta Grossa. "Durante um mês, esse cachorro permaneceu sem água ou comida à disposição. Tentamos encaminhar a denúncia aos órgãos públicos competentes, incluindo a polícia, Força Verde e Centro de Zoonoses, mas nenhuma providência foi tomada. Cada um tem a sua desculpa, para deixar de cumprir uma lei federal que visa proteger os animais de maus tratos", conta Isabele.

Ela argumenta que, sem o respaldo dos órgãos públicos competentes, o Fauna fica de mãos atadas para agir. "Nós atuamos efetuando a denúncia, mas não podemos correr risco de retirar um animal de uma situação de maus tratos, sem o respaldo policial".

Segundo a Lei Federal 9.605/98, praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos é crime passível de prisão e multa. (L.A.)

Fonte: http://www.dcmais.com.br/index.cfm?noticia_id=258883&secao_id=3&ver_edicao=19241

domingo, 13 de junho de 2010

VITELA: UM CRIME HEDIONDO

12/06/2010

VITELA: UM CRIME HEDIONDO, OU, PORQUE “MILK IS MURDER”* - Paula Brügger

"O homem moderno toma o Ser em sua inteireza como matéria-prima
para a produção e submete a inteireza do mundo-objeto
à varredura e à ordem da produção".
Martin Heidegger

Segundo Paul Kingsnorth (2001), a produção industrial de leite é uma das indústrias mais tristes. Quanto mais leite e laticínios são consumidos mais as vacas são tratadas como máquinas de produzir leite para seres humanos. De acordo com o grupo PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), cerca de metade das vacas americanas vive em fazendas de produção intensiva. Passam suas vidas em alojamentos de concreto, ligadas a máquinas de ordenhar que, não raro, lhes dão choques elétricos. Mastite e infecções bacterianas, comuns em regimes intensivos, freqüentemente deixam resíduos de pus no leite que produzem. Devido à alta demanda por leite, as vacas de hoje produzem o dobro do que produziam há 30 anos e até 100 vezes mais do que produziriam no estado natural. As vacas da década de 1990 viviam apenas cerca de 5 anos, em contraste com os 20 a 25 anos de vida de 50 anos atrás. São entupidas com drogas e químicos para prevenir doenças e aumentar sua produtividade, incluindo o famoso hormônio de crescimento bovino. Os bezerros que são obrigadas a parir regularmente - para estimular a produção de leite - são separados delas em 24 horas. Não tomarão seu leite e serão vendidos como carne. Em 60 dias as vacas serão engravidadas de novo, diz Kingsnorth.

Peter Singer (2002) afirma que a indústria de produção de vitela é a atividade rural intensiva mais repugnante do ponto de vista moral. O termo vitela era reservado aos bezerrinhos abatidos antes do desmame. A carne desses animais muito jovens (macia e pálida porque não comem capim) provinha dos animais indesejados, do sexo masculino, descartados pela indústria leiteira.Um ou dois dias depois do nascimento eles eram levados para o mercado onde, famintos e assustados pelo ambiente estranho e pela ausência das mães, eram vendidos ao matadouro. Na década de 1950 produtores holandeses encontraram uma forma de fazê-los atingir cerca de 200kg (em vez de cerca de 50kg que pesam os recém-nascidos) sem que sua carne se tornasse vermelha ou menos macia. Para isso os animais passaram a viver em condições extremamente antinaturais, confinados em baias de cerca de 56cm x 137cm. Quando pequenos, são acorrentados pelo pescoço para evitar que se virem. O compartimento não tem palha ou qualquer outro tipo de forro onde deitar-se (pois os animais poderiam comê-lo, comprometendo a cor da carne). Sua dieta é líquida, baseada em leite em pó desnatado, vitaminas, sais minerais e medicações que promovem o crescimento. Assim vivem durante cerca de quatro meses, até o abate. Nessa vida miserável, mal podem deitar-se ou levantar-se. Tampouco podem virar-se. Os bezerrinhos sentem uma falta imensa de suas mães. Também sentem falta de alguma coisa para sugar, uma necessidade tão forte quanto nos bebês humanos: quando se oferece um dedo ao bezerro ele começa a chupá-lo como um bebê humano faz com seus polegares. Entretanto, desde o primeiro dia de confinamento, bebem sua refeição líquida num balde de plástico. Distúrbios estomacais e digestivos são comuns e também a diarréia crônica. O bezerro é mantido anêmico. A carne rosa, pálida, considerada uma iguaria, é na verdade uma carne anêmica. Para que cresçam rapidamente a maioria é deixada sem água, pois isso aumenta o consumo de seu substituto lácteo. A monotonia é outra fonte de sofrimento. Para reduzir a agitação dos bezerros entediados, muitos produtores os deixam no escuro. Assim, os bezerros já carentes de afeição, atividade e estimulação que sua natureza requer, vêem-se privados do contato visual com outros também. Os bezerrinhos mantidos nesse regime são muito infelizes e pouco saudáveis. Isso é o que aconteceu com o seu jantar no tempo em que ele ainda era um animal, diz Singer.

E a vitela no Brasil, como é produzida?

Ainda que nem todas as etapas descritas por Singer e Kingsnorth estejam sempre presentes, a indústria de laticínios e da vitela é marcada pela violação dos corpos das vacas (que são forçadas a engravidar continuamente) ; pelo seqüestro de seu bebê e o roubo de seu alimento; pela tortura em cativeiro (quando há confinamento do bezerro); e pelo assassinato (já que se trata de morte desnecessária, movida por motivos hedonistas e portanto torpes). O correto, do ponto de vista ético, é a total abolição do consumo de leite e seus derivados.

Porque somos veganos: a história de Bento, um bebê holandês

No dia 13 de abril deste ano, um colega nosso do Tai Chi Chuan ficou hospedado numa pousada na Serra Catarinense e, na manhã seguinte, durante o café da manhã, soube que seus proprietários iriam sacrificar um bezerro que nascera naquela madrugada porque "não compensava" criá-lo. Segundo nosso colega, os proprietários são criadores de gado holandês para leite. Fazem inseminação artificial quando querem que as vacas fiquem prenhas, mas interessam-lhes apenas as fêmeas, claro. Surpreso, e com dó do recém-nascido, nosso colega perguntou aos donos da pousada se eles lhe dariam o bezerrinho de presente. A resposta foi "sim", mas desde que ele o tirasse dali o mais rapidamente possível, pois "dá muito trabalho cuidar desses pequenos". Nosso amigo teve, então, que procurar alguém para cuidar do bezerrinho nos primeiros 60 dias, pelo menos, ainda que com leite em pó, já que o bebê ficaria sem sua mãe. "Pensei em chamá-lo de ´Quase´, visto que ficou vivo por um triz. Depois, pensei em ´Salvado´ ou ´Divino´. Mas, como a comunidade é muito religiosa, preferi ´aliviar´ na nomenclatura e, assim, entra para a história, o Bento (foto nesta página), um sobrevivente na Serra Catarinense" , finalizou nosso colega.

Precisamos de leite?

Não. Isso torna o drama de Bento e sua mãe algo ainda mais incompreensível, para não dizer intolerável. Pior, o consumo de leite está associado a diversos problemas de saúde como manifestações alérgicas (rinite, bronquite), além de provocar prisão de ventre, flatulência e outros distúrbios. Isso se deve sobretudo ao fato de muitas pessoas terem intolerância à lactose e, também, à dificuldade de metabolizar algumas proteínas presentes no leite, seja devido à sua elevada concentração (caseína), seja pela própria natureza da proteína (beta-lactoglobulin a). Há ainda muita controvérsia no que tange à confiabilidade do leite como fonte segura de cálcio, envolvendo questões relacionadas ao seu balanço/biodisponibi lidade1. Existem muitos mitos relacionados à necessidade de consumir itens de origem animal que não têm fundamento científico. Infelizmente, não são poucos os profissionais da área da saúde que perpetuam tais mitos e nos impõem informações equivocadas, cuja aceitação tem por base o medo de adoecer. Independentemente de adotarmos o veganismo, é bastante interessante compreender os fatores históricos, ecológicos e evolutivos, subjacentes à inclusão do leite e seus derivados nas dietas humanas2. As referências indicadas aqui e muitas outras evidenciam porque o leite não é saudável ou necessário hoje.

"Milk is murder"! Ou, por que um pedaço de queijo ou um "milkshake" valem mais do que a vida de Bento?

Essa é a pergunta que não quer calar. Por mais que se alegue que somos radicais em nossos questionamentos teóricos, o que importa é o que acontece na prática. E, na prática, saborear uma "pizza", ou uma sobremesa ao "creme de leite", é mais importante do que deixar Bento e seus irmãos viverem. Essa é uma das muitas "verdades inconvenientes" decorrentes de nossa relação especista com os outros animais. E aqui é bom pontuar: somos radicais sim, no que diz respeito a ir à raiz do problema. Mas não podemos aceitar o rótulo de radical como "postura extremada" ou "sem maleabilidade" , porque extremados e inflexíveis são aqueles que se recusam a abolir hábitos que são - entre muitos outros aspectos - ética e ambientalmente injustificáveis. Consideramo- nos civilizados, mas quando nos comparamos com outras sociedades humanas que chamamos de "primitivas" , constatamos que nenhuma delas jamais dispensou um tratamento tão cruel quanto o nosso para com os animais. O progresso que alcançamos é tão somente no plano técnico. No plano ético nosso progresso é mínimo, senão nulo.

Leites vegetais, leites legais! Viva a diversidade!

Para concluir, gostaria apenas de destacar que existe a possibilidade de tomarmos leites de arroz, gergelim, trigo, aveia, amêndoas, entre outros, que são muito saudáveis e não implicam o sofrimento de seres sencientes. Trocar o leite de vaca por leites vegetais é uma atitude muito legal! Não só porque aumentamos a diversidade de nutrientes que ingerimos e ajudamos a manter a diversidade na natureza, mas também porque são os únicos leites que respeitam rigorosamente a legislação que procura salvaguardar os animais não-humanos de danos e procedimentos cruéis.

* Alusão ao álbum "Meat is Murder", de 1985, da banda britânica "The Smiths". "Meat is Murder" lamenta em tom de luto a desnecessária morte de seres sencientes, isto é, aqueles capazes de experimentar alegria, dor, medo etc. A letra da música assume também um tom raivoso, ao colocar a culpa pelos assassinatos de animais inocentes diretamente no prato de quem os come: "A carne de peru ou novilha (vitela) que fritamos ou cortamos em pedaços não é suculenta ou saborosa, é uma morte sem motivo e morte sem motivo é assassinato" . A letra termina com as perguntas: "Você sabe como os animais morrem? Quem ouve os gritos dos animais?"

Notas

1 Veja, por exemplo, "Consumo do leite de vaca: mitos e realidades", artigo da Dra. Denise Madi Carreiro, disponível em http://www.deniseca rreiro.com. br/artigos_ artigoleite. html

2 Para uma rápida revisão sobre o assunto procure na Internet "Lacticínios + Wikipédia" (item História). Para um maior aprofundamento recomendo, por exemplo, o capítulo que trata dos "lactófilos e lactófobos" (Lactophiles and Lactophobes: Milk Lovers and Milk Haters) no clássico livro "Good to eat - riddles of food and culture", do antropólogo Marvin Harris.

Bibliografia citada

KINGSNORTH, Paul. Mother's milk. The Ecologist, 31(5), junho, 2001: 38.

SINGER, Peter. Lá na fazenda industrial.. .In: Vida ética: os melhores ensaios do mais polêmico filósofo da atualidade. Tradução de Alice Xavier. Rio de janeiro: Ediouro, 2002: 83-94.

Texto reeditado. Adaptado (3ª versão) de "Carne de vitela: um caso de crime hediondo", artigo publicado no jornal A Notícia em 05/10/06.
Publicado na revista Pensata Animal em 27 de Junho de 2009: http://migre. me/O9dO
Paula Brügger
brugger@ccb. ufsc.br

Professora do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina onde ministra as disciplinas "Biosfera, sustentabilidade e processos produtivos", "Meio Ambiente e desenvolvimento? e "Gestão da sustentabilidade na sociedade do conhecimento" . É graduada em Ciências Biológicas com especialização em Hidroecologia, Mestra em Educação e Doutora em Ciências Humanas - "Sociedade e Meio Ambiente". Atua na defesa dos animais e do meio ambiente e auxiliou diversas vezes o Ministério Público Federal na luta contra projetos de pseudodesenvolvimen to que promovem exclusão social e a destruição da natureza. É autora dos livros Educação ou adestramento ambiental?, em 3ª edição, e Amigo Animal ? reflexões interdisciplinares sobre educação e meio ambiente: animais, ética, dieta, saúde, paradigmas. Coordena o projeto de educação ambiental "Amigo Animal", oferecido para as escolas da rede municipal como tema transversal. É coordenadora do Departamento de Meio Ambiente da "Sociedade Vegetariana Brasileira" (SVB). Atua principalmente nos seguintes temas: educação ambiental; interdisciplinarida de e paradigmas de ciência; desenvolvimento sustentável; relação dos seres humanos com os outros animais como relação sociedade-natureza.
Para receber este boletim, escreva para sentiens@sentiens. net .

leishmaniose!!!!

O deputado estadual Feliciano Filho, autor da Lei Estadual 12916/08, que proíbe a matança de animais sadios nos CCZs, Canis Públicos e Congêneres, e obriga um exame de sangue comprobatório para animais com doenças infecto contagiosas para seres humanos e outros animais, formou uma equipe com a finalidade de visitar todos os órgãos que controlam zoonoses do Estado de São Paulo.

Ao visitar cidades endêmicas de Leishmaniose a equipe constatou que na verdade as Prefeituras destas se utilizam da desculpa da doença para promover a matança indiscriminada e sistemática de animais.

O Decreto Federal do senado, nº 51.838, de 14 de março de 1963, condena todos os animais com suspeita de Leishmaniose Visceral Canina a serem mortos, , e como se não bastasse, uma portaria interministerial nº 1.426, de 11 de julho de 2008, proíbe o tratamento de cães com a doença com produtos de uso humano ou não registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O Brasil é o único país no mundo que não trata a doença em animais.

A utilização da vacina em animais, só é permitida em área endêmica, portanto não há como nos prevenir e proteger nossos animais.

Preocupado com esta situação, o deputado Feliciano Filho deseja realizar na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo um seminário sobre o assunto, com o titulo: Leishmaniose: matar animais resolve?

Para ministrar as palestras temos confirmados alguns dos maiores especialistas no assunto, são eles:


Aspectos éticos e técnicos da Leishmaniose Visceral Canina no Brasil e no Mundo

1) Vítor Márcio Ribeiro, Médico Veterinário, professor da PUC-MG , Mestre e Doutor em LVC, Belo Horizonte.


Enfrentamento jurídico no tratamento da Leishmaniose Visceral Canina.

2) Sérgio Cruz, advogado, faz parte da Comissão do Meio Ambiente da OAB/MG e advogado da Ação Civil Pública da ANCLIVEPA-Brasil; Belo Horizonte.


Manifestações clínicas e ciclo epidemiológico

3)Fábio Nogueira, Médico Veterinário,professo r da Fundação Educacional de Andradina/SP, Mestre e Doutor em Leishmaniose. Andradina –SP


Mitos e verdades relacionados ao tratamento da Leishmaniose Visceral Canina

4)- André Luis Soares da Fonseca. Médico veterinário e advogado. Professor de Imunologia e Imunoclinica e Genética Médica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Especialista e Direito Civil e Processual Civil. Mestre em Imunologia das Leishmanioses pela USP/SP e doutorando da USP/SP.


Epidemiologia da Leishmaniose Visceral Canina e implicações do cão como vetor

5)- Carlos Henrique Nery Costa – Medico epidemiologista – consultor do Ministério da Saúde – Piauí . Concluiu o doutorado em Saúde Pública Tropical Harvard University em 1997. Atualmente é professor da Universidade Federal do Piauí.


Controle e prevenção da Leishmaniose

6) Marcio Antoninio B. Moreira – Médico veterinário, dedicado ao diagnóstico laboratorial das doenças; graduado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP – Araçatuba); Mestrado em Fisiopatologia pelo Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pesquisando o diagnóstico da leishmaniose visceral canina; Responsável pelo Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi (HOVET-UAM); Pesquisador do Laboratório de Patologia Animal da UNESP – Araçatuba.


CRMV – Posicionamento em relação ao assunto

7) Prof. Dr. Silvio Arruda Vasconcellos – Conselheiro Efetivo

Para informações e inscrições acesse http://www.felicianofilho.com. br/
12/06/2010

Caros internautas

Após o lançamento pelo Sentiens da campanha "Direitos dos animais, uma questão de JUSTIÇA!", em 21 de fevereiro de 2010, visando a criação da Promotoria de Defesa Animal em São Paulo, ativistas em vários estados passaram a pleitear promotorias especializadas. Grupos e promotores de justiça da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo estão de movimentando neste sentido. Este era um dos objetivos da campanha e vimos manifestar nosso apoio e satisfação pela ação nos estados.

Lembramos que as assinaturas na petição do Sentiens são de internautas de todo o país, o que as legitima para serem usadas por todas as campanhas estaduais. A lista de signatários está à disposição dos grupos.

Solicite a criação da Promotoria de Defesa Animal ao Procurador Geral de Justiça de seu estado!

A tese acadêmica que inspirou a campanha, bem como a Justificativa para a criação das promotorias estão disponíveis no site Sentiens - www.sentiens. net.

E nós estamos à disposição para outras informações.

Cordialmente,

Maurício Varallo
Sentiens Defesa Animal - http://www.sentiens .net/
Pensata Animal - http://www.pensataa nimal.net/
Olhar Animal - http://www.olharani mal.net/

"Ser ético não é apenas se abster de fazer o mal. É também agir para promover o bem."

--


Avanços na justiça pelos animais
Espírito Santo pode ter delegacia e promotoria especializadas em proteção animal
27 de maio de 2010

Por Maninho Pacheco (da Redação)

A discussão de projetos de indicação do deputado estadual Dr. Hércules Silveira (PMDB) que sugerem a criação no Espírito Santo da Delegacia Especializada em Proteção Animal e da Promotoria Especializada em Direitos e Proteção Animal, reuniu na terça-feira, dia 25, o parlamentar capixaba, o delegado chefe da Polícia Civil do estado, Júlio César, o Procurador Geral de Justiça do Espírito Santo, Fernando Zardini, e representantes do IBAMA, CRMV-ES (Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo), AMAES (Associação dos Amigos dos Animais do Espírito Santo) e SOPAES (Sociedade Protetora dos Animais do Espírito Santo).

Simpático à matéria, o delegado Julio Cesar disse que, independentemente da tramitação da indicação de criação da delegacia especializada proposta, iria estudar a inclusão de suas atribuições no âmbito da Delegacia de Meio Ambiente, Proteção e a Defesa Animal. “Trata-se de uma medida menos burocrática e deverá ser posta em prática de forma rápida”, disse. O delegado irá reunir-se com o assessor jurídico da SOPAES para estudar a matéria e colocá-la em vigor por meio de portaria a ser publicada no Diário Oficial do Estado.

Da mesma forma, a reunião com o Procurador Geral de Justiça, Fernando Zardini, teve o objetivo de entregar formalmente o projeto de indicação que cria a Promotoria Especializada em Direitos e Proteção Animal ao Ministério Público Capixaba, oportunidade em que as associações de proteção animal, IBAMA e Conselho Regional de Medicina Veterinária reforçaram a importância do pleito e a necessidade de sua implantação.

Ao se manifestar, o Procurador Geral de Justiça disse que o projeto é pertinente e vem em boa hora, na medida em que o MP/ES prepara um projeto de lei de reformulação administrativa que será enviada à ALES até o final do semestre e o pleito do deputado Dr. Hércules e das entidades, SOPAES, AMAES, IBAMA, CMRV-ES e voluntários colaboradores da causa poderá ser contemplado nessa reformulação.

Ao final da reunião, Zardini assinou a declaração DUBEA (Declaração Universal de Bem Estar Animal), reafirmando seu comprometimento com a causa de proteção animal, fato que será notícia nacionalmente, a exemplo do que já fez o vice-governador Ricardo Ferraço e o Procurador Geral do Estado, Rodrigo Rabello.

Fonte: http://www.anda. jor.br/?p= 64195

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Como denunciar maus tratos aos animais

Olá. Você já teve problemas quando buscou denunciar maus-tratos a animais para um órgão público? Não conseguiu registrar uma denúncia? Registrou, mas nada aconteceu? Outras dificuldades?

Por favor, relate para nós os problemas que você encontrou ao denunciar maus-tratos às polícias civil e militar, IBAMA, Ministério Público, tribunais e órgãos municipais e outras instituições públicas.

Escreva para sentiens@sentiens. net digitando a palavra "DEPOIMENTO" no campo "Assunto".

Obrigado!

Maurício Varallo
Sentiens Defesa Animal - http://www.sentiens .net/

sábado, 5 de junho de 2010

O homem evoluiu como um animal carnivoro ou vegetariano?













O homem evoluiu como um animal carnivoro ou vegetariano?

Sérgio Greif
Qui, 03 de Junho de 2010 22:33

É comum, atualmente, que no debate entre consumidores de carne e vegetarianos sejam utilizados argumentos relacionados aos "homens das cavernas", uns argumentando que os homens evoluíram como carnívoros e outros argumentando que evoluíram como vegetarianos. O presente texto traz considerações com relação a esse assunto. Conforme a teoria evolutiva corrente, por volta de 6 e 7 milhões de anos atrás viveu nas florestas africanas um antepassado do homem do tamanho de um chimpanzé, denominado Orrorin tugenensis. Esse proto-homem passava a maior parte do tempo nas árvores, em busca de seu alimento (frutas e folhas), mas as vezes descia ao solo. A presença de grandes molares e de pequenos caninos sugere que esses hominídeos tinham uma dieta baseada em vegetais, mas podemos inferir que, eventualmente, insetos e pequenos vertebrados também fizessem parte de sua dieta, à semelhança do que ocorre entre os chimpanzés.

Por volta de 4 milhões de anos atrás, o aquecimento global (que já existia nessa época) reduziu grande parte das florestas africanas a savanas, e isso levou os antepassados do homem a buscar novas adaptações. O espaçamento entre as árvores e a necessidade de percorrer grandes distâncias para encontrar seu alimento levou a um maior desenvolvimento do bipedalismo (capacidade de andar em duas pernas). Surgia então o gênero Australopithecus, com representantes com pouco mais de 1 metro de altura, cérebro pequeno e rosto largo, cujos representantes mais conhecidos foram o A. afarensis e o A. africanus.

Devido às condições de seu ambiente e às suas limitações físicas, esses hominídeos encontravam grande dificuldade em encontrar boas condições para sua subsistência. As frutas já não eram tão abundantes como na floresta, e o capim, que agora abundava nas savanas, não era digerível. Também para obter outros tipos de alimentos eles tinham grande dificuldade, visto que esses hominídeos não eram bem adaptados à caça. Eles não eram rápidos o suficiente para alcançar uma gazela na corrida, nem tinham garras, presas ou força suficiente para abatê-las.

Por isso, a maior parte do tempo, esses hominídeos passava forrageando, se deslocando em busca de folhas, raízes e frutos que conseguisse digerir. Eventualmente, quando encontrava um animal doente ou já morto ele consumia a carne com voracidade, pois carne significava uma grande quantidade de calorias e nutrientes concentrados, em um mundo onde não se sabia quando seria a próxima refeição.

Onivoria, quando não se tem controle sobre o meio ambiente, é uma vantagem evolutiva, porque permite que se coma qualquer coisa e não se morra de fome.

Por volta de 2 milhões de anos atrás, a competição por recursos nas savanas africanas havia aumentado bastante. As florestas eram ainda menos abundantes e nas savanas proliferava uma fauna de grandes herbívoros pastadores; os grandes predadores eram mais eficientes no abate de presas e mesmo as carcaças por eles abandonadas precisavam ser disputadas com hienas e abutres.

O homem precisou então criar novas estratégias evolutivas: Ele precisaria se tornar tão bom pastador quanto os outros pastadores ou tão bom predador quanto os outros predadores. Ou seja, precisava se tornar competitivo.

O caminho adotado foi o da 'irradiação', da 'diversificação adaptativa'. Nesse período surgiram várias espécies de hominídeos, das quais conhecemos pelo menos 5 espécies. Um grupo de hominídeos, o gênero Paranthropus, optou por se especializar na alimentação à base de vegetais fibrosos e pouco nutritivos, por isso desenvolveu um corpo robusto, com mandíbulas pesadas, molares bem achatados e um trato digestivo que permitia o consumo de grande quantidade de alimentos. Essas adaptações permitiam que esse hominídeo processasse alimentos como o capim e as cascas de árvores. É provável que esses hominídeos fossem estritamente vegetarianos, o que não demandava a fabricação de instrumentos ou a elaboração de estratégias de caça. O Paranthropus tinha o corpo robusto, mas o cérebro era pequeno, e o ambiente era extremamente favorável ao seu estilo de vida.

Por essa mesma época surgiam nas savanas outros grupos de homens, hoje reconhecidos como a transição entre os Australopithecus e o que já reconhecemos como os primeiros homens pertencentes ao gênero Homo. Eles eram a princípio necrófagos que seguiam os grandes predadores em busca das carcaças abandonadas, mas com o tempo desenvolveram técnicas para abater suas próprias presas. Esse gênero, que não podia digerir capim e cascas de árvore, especializou-se na caça de animais, consumindo também, sempre que disponível, vegetais mais nutritivos. Suas principais adaptações foram o desenvolvimento de ferramentas de pedra cada vez mais elaboradas, de um sistema de comunicação mais articulado e, um milhão de anos após, no domínio do fogo.

Esses hominídeos, para desenvolverem sua capacidade de cognição (crescimento do cérebro) precisaram tirar a energia de outros órgãos. Considerando que a maior parte da energia corpórea era gasta para manter o trato digestivo e que o tipo de alimentação adotado se consistia em sua maior parte de alimentos calóricos com nutrientes concentrados, os intestinos desse homem diminuiu, à medida que seu cérebro aumentava.

Nesse período em que os dois gêneros (os Paranthropus vegetarianos e a os Homo onívoros) coexistiram, o vegetarianismo, ou herbivoria, apresentou-se como uma vantagem. Pode-se imaginar que o Paranthropus levasse uma vida tranqüila, vivendo em vales verdes abundantes em seus alimentos, sem se arriscar em caçadas ou competir com outros predadores; As espécies do gênero Homo, por outro lado, encontravam-se sempre no limiar da sobrevivência, quase minguando de fome, arriscando-se em caçadas e precisando deslocar-se por grandes extensões de terra para encontrar seu alimento.

Novas mudanças climáticas posteriores diminuíram as extensões dos pastos, e as áreas verdejantes, em sua grande parte, deixaram de existir. Os Paranthropus definharam. O gênero Homo, mais acostumado aos deslocamentos sucessivos e à falta de segurança alimentar sobreviveu. Somos descendentes desses homens.

Ao contrário do que se acredita, a paleoantropologia não defende uma sucessão linear, onde o Homo habilis tenha dado origem ao Homo rudolfensis e ao Homo ergaster, e que desse tenha surgido o Homo erectus, o Homo heidelbergensis que deu origem ao Homo neardentalis e ao Homo sapiens, espécie à qual pertencemos. A evolução de todas essas espécies aconteceu a partir de ancestrais comuns, muitos deles ainda não encontrados.

Importante é que entendamos que as condições em que a evolução humana se deu permitiram que o homem desenvolvesse sua inteligência para compensar seus desvantajosos atributos físicos. Pedras lascadas para compensar a falta de garras e presas, lanças para compensar a pouca velocidade, estratégias de emboscada para compensar a falta de resistência. A carne nos acompanhou grande parte desse tempo, seja da carcaça abatida por outros animais, seja por nossos próprios ancestrais, mas não porque seus nutrientes fossem essenciais. A carne era muitas vezes a única opção.

O fato de que descendemos de Australopithecus e Homos carnívoros não nos torna carnívoros, nem aponta para o que deva ser nossa alimentação natural, alimentação para a qual fomos desenhados. Se em determinado momento de nossa evolução era determinante que a carne fizesse parte da alimentação, o atual momento aponta exatamente para o contrário.

Novas etapas de desenvolvimento levaram ao domínio da agricultura e então o homem começou a selecionar plantas com melhor composição de nutrientes e de melhor digestibilidade. Se a onivoria é uma vantagem evolutiva quando não se tem controle sobre o meio ambiente, a opção por uma alimentação em níveis mais baixos na cadeia alimentar passa a ser vantagem quando esse controle é conquistado. O homem agricultor tinha a segurança de saber que, se cuidasse de sua plantação, teria alimento para o ano inteiro. O cultivo de vegetais também permitia o sustento da família sem a necessidade de grandes deslocamentos. Permitia a fixação à terra e o sustento de um núcleo populacional maior em menor área. Mas mesmo isso não tornou o homem um animal vegetariano. O agricultor eventualmente empreendia caçadas nas florestas próximas, sendo a carne consumida sempre que encontrada.

A criação de animais (desenvolvida mais ou menos na mesma época em que se iniciou a agricultura) concentrou-se nas terras menos propícias ao cultivo. As populações humanas que se especializaram na criação de animais eram geralmente nômades e precisavam estar em constantes deslocamentos, em busca de novos pastos. Por isso não podiam subsistir com grande número de indivíduos. As populações que optaram pela agricultura fixaram-se à terra, podiam concentrar maior número de indivíduos e baseavam sua alimentação nos vegetais, não sendo porém vegetarianos.

Podemos dizer que a maior parte de sua história, as populações humanas subsistiram com dietas à base de vegetais, com o eventual acréscimo de.algum componente de origem animal. Essa ainda é a alimentação predominante dos seres humanos nos dias de hoje, quando consideramos que a maior parte dos seres humanos não tem acesso a produtos de origem animal. Esse "quase-vegetarianismo-involuntário", no entanto, não prova que o homem seja um animal vegetariano por natureza, e nem que, por outro lado, a desnutrição dessas populações possa ser atribuída a uma inferioridade da alimentação à base de vegetais.

Se a carnivoria foi determinante para a sobrevivência do homem em determinadas etapas de sua evolução, hoje ela se apresenta como uma desvantagem evolutiva (a carne está associada à maior incidência de doenças e a ocupação menos sustentável da terra). Também os vegetarianos não devem buscar na evolução do homem elementos para defender seu ponto de vista, o vegetarianismo é perfeitamente defensável sem a necessidade de uso dessa retórica.

Sérgio Greif

Sérgio Greif
sergio_greif@yahoo.com

Biólogo, mestre em Alimentos e Nutrição, co-autor do livro "A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo" e autor de "Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável".
Pensata Animal nº 33 - Junho de 2010 - www.pensataanimal.net

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Do sangue, da assepsia, e da construção simbólica em torno da mercadoria-carne

Do sangue, da assepsia, e da construção simbólica em torno da mercadoria-carne

Giulia Bauab Levai

Qui, 03 de Junho de 2010 14:30

O presente artigo surgiu na necessidade de se fazer um trabalho final em uma disciplina de Antropologia ministrada no curso de ciências sociais da Universidade Estadual de Campinas, onde a turma deveria se organizar em trios e realizar um exercício de observação e elaboração de relato etnográfico, com uso de autores debatidos no decorrer do semestre; a respeito de qualquer questão que envolvesse um local e um grupo de pessoas ligadas a um tema, na qual não se tinha necessidade de nada exótico, uma vez que o espaço mais simples e cotidiano pode render observações interessantes, se pensado em seus pormenores.

Por algumas semanas permaneci sem uma idéia plausível, até assistir ao filme Câmera Olho. Digo que nele uma cena me surpreendeu; ao mostrar todo o processo de “ganho” da carne numa câmera acelerada, de trás pra frente, a partir da cena onde uma mulher trocava umas moedas por um pedaço de carne até o momento em que a vaca aparecia viva. O processo em si, embora visto por intermédio de uma tela inúmeras vezes, ainda ter despertado o famigerado asco misturado com angústia, mais que isto, o movimento da câmera que revertia as ações ganhou minha atenção. Eis o tema do trabalho delimitado: tinha me proposto então, a realizar um exercício de observação (tal qual aquele que se faz antes de adentrar num trabalho de campo) nos açougues de Campinas. Lembro ter partilhado a idéia com alguns colegas, a fim de fechar um grupo que não fosse fechado à proposta; a princípio recorri aos vegetarianos da sala, mas acabei agregando duas colegas que acolheram à idéia com aquilo que chamam de “mente aberta”.

Partíamos da idéia de fazer, então, a observação de locais que reúnem as práticas da venda e compra de carne - tais como supermercados e açougues – e, a partir da relação de consumo entre animais humanos e não-humanos, pensar a questão da elipse da conexão entre animal e carne - o rito de passagem - na ótica antropológica.

Dessa forma, a proposta trouxe idéias como traçar a ponte humano-animal-carne e a significação cultural dos objetos nos locais observados, numa reflexão sobre o que permite/valida o consumo de animais para fins alimentícios. Conforme os estudos e os autores que discorrem sobre o conceito de cultura foram assumindo um caráter diferenciado que se adequaram ao presente exercício de observação, este tomou por referencial teórico Marshall Sahlins, e a tese de mestrado de Juliana Vegueiro Dias, O Rigor da Morte: a Construção Simbólica do “Animal de Açougue” na Produção Industrial Brasileira. Estávamos ali com excelentes fontes, às quais recomendo enfaticamente. Faço aqui um parêntese, para dizer que revisando o trabalho a fim de estruturá-lo como artigo, reverti - na parte que segue, da descrição física da disposição da venda de carnes - os verbos no presente para o passado, a fim de relatar as observações que foram feitas no final de 2009. Lamento dizer que estas não se tratam de práticas que se limitam ao passado.

Começava então com a referência a Sahlins, que, por exemplo, analisando a sociedade americana em relação às suas preferências de comida e quanto aos tabus que essa sociedade sustenta, coloca: “[...] o ponto principal não é somente de interesse do consumo; a relação produtiva da sociedade americana com seu próprio meio ambiente e com o mundo é estabelecida por avaliações específicas de comestibilidade e não-comestibilidade [...][1]

A intenção aqui era a de lançar um olhar mais minucioso e atento sobre a peculiaridade do ato pelo qual animais humanos (vivos) consumem fragmentos de outros animais (mortos). Animais humanos: membros da espécie primata bípede, Homo sapiens. Outros animais: vacas, porcos, galinhas e peixes, sendo os dois primeiros mamíferos quadrúpedes, o terceiro bípede e o último, detentor de nadadeiras e brânquias. Todos são reunidos no reino Animalia. No entanto, nas últimas três semanas freqüentamos ambientes de consumo de itens cárneos, nos quais toda e qualquer referência à categoria animal parecia ser de fato, esquecida e posta de lado.

Nas observações feitas em campo, localizamos a “sessão de Carnes e aves” ocupando o canto esquerdo dos fundos do supermercado. O odor era anteriormente notado. Uma espécie de geladeira horizontal se encontrava no corredor, contendo músculos, articulações e órgãos tanto internos quanto externos de vacas, porcos e galinhas, eram dispostos em bandejas de isopor, revestidas por um plástico. A outra prateleira refrigerada era relativamente setorizada, distribuindo carnes vermelhas, brancas e miúdos, em trechos diferentes. Os corações de galinhas eram vendidos aos montes, em cima de uma poça de sangue, numa única embalagem.

Algumas carnes são embaladas num outro tipo de embalagem, à vácuo, de forma a evitar o escoamento do sangue, que encontramos em algumas bandejas. Ao lado das prateleiras, um rolo de embalagens plásticas ficava à disposição do cliente, caso este queira “reembalar” a embalagem. A noção de assepsia era forte, havia um certificado da vigilância sanitária ao lado do balcão, os funcionários de uniforme, touca e botas brancas.

Seguindo a diante, tínhamos um balcão onde os funcionários amolavam facas e davam pancadas surdas com a machadinha. Ali eram expostos fígados pendurados, perfurados por ganchos; outros músculos e tripas eram postos em bacias brancas, ao lado, a pele de porco também pendurada. O ambiente reunia vários elementos típicos da esfera estereotipada de construção da masculinidade na simbologia ocidental, das facas, do contanto direto com o sangue, do “sangue-frio”, enfim, de toda a chamada virilidade presente na categoria meat-eater / hunter[2].

Saindo da sessão de carnes e aves, logo se via, no lado oposto, uma vasta quantia de itens incrivelmente coloridos e mais atraentes que o normal. Frutas, verduras e legumes. No caminho, uma sessão nomeada “frios e embutidos”, onde mortadelas e presuntos eram pendurados no alto; nas prateleiras geladas, encontravam-se lingüiça, salsicha, azeitonas, maionese e comidas prontas. No mesmo ambiente, eram expostas carne-de-sol e bacon. Na frente dessa sessão, estava a de “Peixes”, curiosamente separada das “Carnes e aves”, como outra categoria de alimento. Ali, o mau-cheiro também é característico, as carnes de peixe pareciam ser mais congeladas que as outras, e se encontravam todas num fundo refrigerador[3].

Dos vestígios de alguma vida nos balcões assépticos, nas embalagens a
vácuo e no avental branco:

Pois parece, de fato, que toda a assepsia procura garantir ao consumidor que o objeto de consumo se mostre uma mercadoria comestível, sem qualquer outro destino prévio. A categoria que reúne os elementos que remetem ao animal enquanto ser outrora vivo é apagada do ambiente. A carne é consumida fora do contexto de tudo aquilo que indica a presença de um corpo, é retalhada em pedaços e formas neutras, quando não enlatada nos chamados embutidos. O sangue é evitado a todo custo, conforme aparecem as embalagens a vácuo e o cenário branco; a temperatura quente e viva da carne é revertida em itens refrigerados e congelados.

Os artefatos parecem circular, em grau máximo de afastamento do corpo e da vida dos animais. Na produção industrial se delineia, assim, a carne como um produto surgido ex nihilo – autônomo, independente, característico do “mundo das mercadorias” (DIAS: 2009, K.Marx, (1867) 1987). É possível perceber o consumo de carne enquanto algo possibilitado pela via da comodidade, seja pela disponibilidade no mercado, pela idéia de higienização do ambiente (da vigilância fiscal), ou mesmo pela simbologia envolvida na aparência do produto. Fatores que não deixam de ser comuns aos que influenciaram a transferência dos açougues comerciais para dentro dos supermercados.

Olhando mais atentamente às mercadorias acima descritas, percebíamos o sangue concentrado nas dobras da embalagem justa, as manchas de sangue no chão branco, o avental branco-amarelado e o mau-cheiro instalado a dois corredores de distância. Ainda, podia-se refletir sobre o mal-estar gerado em torno das semelhanças das partes do corpo animal (dispostas a venda) com o corpo humano dos próprios consumidores. Partes como língua, estômago, pé, entre outras, são algumas as quais a conexão perdida na elipse se dá mais espontaneamente, sendo elas
menos procuradas e consumidas, consideradas “comidas exóticas” pelos próprios funcionários do açougue.

Pensando a trajetória que antecede a mercadoria nas prateleiras, podemos citar a linha de (des)montagem trabalhada por Dias, que caracteriza o abate industrial de animais e não apenas introduz a alienação do trabalho humano, mas, como seu próprio nome indica, ao fragmentar o corpo animal em partes – a partir de que o todo é irreconhecível e irrecuperável -, materializa a alienação neste próprio corpo. Ou seja, em analogia ao argumento de K.Marx [(1867) 1987] em relação ao trabalho humano, o corpo animal também se torna um “hieróglifo social”.

“Tais disposições são etapas fundamentais na transformação simbólica do animal em carne. Retirar todo o sangue do animal, esvaziar de vida o corpo que antes se movia por conta própria, proporciona um distanciamento da idéia do animal vivo, aproximando a matéria inerte de um objeto artificialmente produzido. Trata-se, assim, de um processo de descaracterização progressiva do animal durante sua transformação em carne, como notou N.Vialles (1987), através da retirada das patas, da cabeça, pele e vísceras.”[4]

Temos, novamente, a dissociação entre o animal e o produto industrial classificado na categoria carne. Nas argumentações de DIAS (2009): oculta a morte, imediatizado o consumo, neutralizada a corruptabilidade da carne, esta se mostra cada vez mais como um produto como outro qualquer, produzido pela mão humana, do que com um produto de primeira natureza. A partir do que foi observado, o consumidor tem toda a indiferença necessária para eliminar quaisquer conexões entre animais e “peças”.

“Paralelamente a esse movimento de especialização e fragmentação da produção, Gustavus Franklin Swift, dono da fábrica que leva seu nome, desenvolveu uma técnica que efetivamente revolucionou o mercado de carnes: a carcaça, cortada em inúmeros pedaços, era agora apresentada ao consumidor como peças de carne, o que permitiu significativa elevação dos preços: “a melhor forma de atingir esse objetivo era cortar a carne esteticamente em pedaços, da forma mais atraente possível e expô-los pelo menor preço (W.Cronon, 1991: 237).”[5]

Apontado pela autora, este é o passo decisivo para a cisão entre a carne, enquanto produto industrial, e o animal, em sua integridade de corpo vivo. É demonstrada a transformação do animal em mercadoria comestível através de uma elipse lógica que mascara a passagem do ser vivo ao corpo morto, que segue inúmeras estratégias, as quais velam a forma real do corpo animal, na desenvoltura de um “mercado de pedaços” que suprime completamente a relação entre o fragmento e a totalidade de seu corpo. Existe aí toda uma lógica de produção simbólica em torno da mercadoria:

“De fato, como argumentou W.Cronon, o resultado mais importante da produção industrial de carne – mais do que a carne em si – é o esquecimento, este que faz o animal morrer duas vezes: uma primeira vez nas plataformas de matança e uma segunda, no pensamento dos consumidores.”[6]

Tal como Marshall Sahlins constata, o consumo de carne só poderia dar-se mediante à separação entre aquilo que se come e o que é determinado por uma interação comum entre homens e animais; Baudrillard coloca que da mesma maneira que a linguagem, o consumo é uma troca de significados onde a funcionalidade dos bens ocorre depois, se auto-ajustando.[7]

Bom, nesta conclusão apressada acabava o trabalho. Assim que impresso, foi apresentado em sala. Os demais colegas discorriam sobre seus temas, tais quais as visitas a espaços públicos frequentados por um determinado tipo de pessoas, às peculiares visitas a igrejas evangélicas neopentecostais, a lojas e shoppings, entre outros. Não pude deixar de notar expressões que iam do receio, à surpresa, ao nojo, ao quase-interesse e à aversão. Espero ter despertado um mínimo de incômodo naqueles que são agentes destas práticas, e com esse incômodo, um mínimo de reflexão, por que tudo aquilo que fazemos, por mais pessoal que pareça, não deixa de ser, sempre, um ato político; e como a antropologia estruturalista nos ensina, os atos são atos dotados de significação simbólica, e nada é mera funcionalidade.

Bibliografia

DIAS, Juliana Vergueiro. O Rigor da Morte: a construção Simbólica do “Animal de Açougue” na Produção Industrial Brasileira. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia Social do IFCH/UNICAMP, Fev. 2009

SAHLINS, Marshal. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro. Zahar Editores S.A., 1979

Notas

[1] SAHLINS, Marshal. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro. Zahar Editores S.A., 1979. P. 190

[2] Termos da literatura inglesa e norte-americana. O primeiro, procura designar a categoria aqueles que têm uma “cultura” da presença de carne reforçada na dieta onívora; o segundo, termo para caçador.

[3] As informações e impressões colhidas em campo, talvez pela escolha do ambiente deste, de certa forma, acabaram sendo bastante homogêneas nos dois supermercados, com alguma diferenciação nos açougues também visitados.

[4] DIAS, Juliana Vergueiro. O Rigor da Morte: a construção Simbólica do “Animal de Açougue” na Produção Industrial Brasileira. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia Social do IFCH/UNICAMP, Fev. 2009. p. 54
[5] DIAS: 2009, Op. Cit. p. 28

[6] Idem.

[7] SAHLINS: 1979, Op. Cit. p. 197

Giulia Bauab Levai
giulialevai@hotmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

Graduanda em ciências sociais, Universidade Estadual de Campinas.

Pensata Animal nº 33 - Junho de 2010 - www.pensataanimal.net

Defesa e Proteção Animal não tem fronteiras

A Defesa e Proteção Animal não tem fronteiras ou nacionalidade. O que acontece nas ruas de nossas cidades, não difere em nada com o que acontece em outros países, mesmos os que se "intitulam" de 1º Mundo.


Denuncia apresentada pelo PACMA (Partido Antitaurino, da Espanha), as autoridades daquele país, expôs as terríveis condições em que viviam alguns cães nas cercanias da cidade de Segóvia. A mesma foi acompanhada por membros do PACMA e por uma equipe de repórteres da rede de TV Telecinco.


Nos links abaixo, foram registradas as terríveis condições em que se encontravam estes animais: nenhuma comida ou água, viviam entre as fezes e animais mortos, e um deles preso a uma corrente curta. Filhotes nasciam e não sobreviviam, devido à inanição. Após a morte, serviam de alimento a matilha remanescente.


Infelizmente este caso mostra que os animais espanhóis compartilham dos mesmos problemas dos animais brasileiros.

A administração local foi alertada do caso, por moradores, em março, porém não foram tomadas providências (qualquer semelhança com as nossas autoridade, não é mera coincidência).


Na denúncia, o PACMA expressa a gravidade da situação e o risco à vida dos animais. Exigiu a apreensão cautelar dos cães e, em seguida, que os culpados fossem julgados e punidos pela legislação penal espanhola.


A apreensão e guarda dos animais foi realizada graças a colaboração da ANAA (Associação Nacional dos Amigos dos Animais) e da SPAP (Sociedade para a Proteção dos Animais e Plantas de Madrid). O processo será acompanhado pelos dirigentes do PACMA.


Vídeo do PACMA - http://www.youtube.com/watch?v=7bv8DZoWrVg ;

Vídeo da TV Telecinco - http://vimeo.com/12182698

O modelo animal

02/06/2010

O MODELO ANIMAL

Sérgio Greif - sergio_greif@ yahoo.com

Se um pesquisador propusesse testar um medicamento para idosos utilizando como modelo moças de vinte anos; ou testar os benefícios de determinada droga para minimizar os efeitos da menopausa utilizando como modelo homens, certamente haveria um questionamento quanto à cientificidade de sua metodologia.

Isso porque assume-se que moças não sejam modelos representativos da população de idosos e que rapazes não sejam o melhor modelo para o estudo de problemas pertinentes às mulheres. Se isso é lógico, e estamos tratando de uma mesma espécie, por que motivo aceitamos como científico que se teste drogas para idosos ou para mulheres em animais que sequer pertencem à mesma espécie?

Por que aceitar que a cura para a AIDS esteja no teste de medicamentos em animais que sequer desenvolvem essa doença? E mesmo que o fizessem, como dizer que a doença se comporta nesses animais da mesma forma que em humanos? Mesmo livros de bioterismo reconhecem que o modelo animal não é adequado.

Dados experimentais obtidos de uma espécie não podem ser extrapolados para outras espécies. Se queremos saber de que forma determinada espécie reage a determinado estímulo, a única forma de fazê-lo é observando populações dessa espécie naturalmente recebendo esse estímulo ou induzi-lo em certa população.

Induzir o estímulo esbarra no problema da ética e da cientificidade. Primeira pergunta: será que é certo, será que é meu direito pegar indivíduos e induzir neles estímulos que naturalmente não estavam incidindo sobre eles? Segunda pergunta: será que é científico, se o organismo receber um estímulo induzido, de maneira diferente à forma como ele naturalmente se daria, será ele modelo representativo da condição real?

Ratos não são seres humanos em miniatura. Drogas aplicadas em ratos não nos dão indícios do que acontecerá quando seres humanos consumirem essas mesmas drogas. Há algumas semelhanças no funcionamento dos sistemas de ratos e homens, é claro, somos todos mamíferos, mas essas semelhanças são paralelos. Não se pode ignorar as diferenças, as muitas variáveis que tornam cada espécie única. Essas diferenças, por menores que pareçam, são tão significativas que por vezes produzem resultados antagônicos.

Testes realizados em ratos não servem tampouco para avaliar os efeitos de drogas em camundongos. Isso porque apesar de aparente semelhança, ambas as espécies possuem vias metabólicas bastante diferentes. Diferenças metabólicas não são difíceis de encontrar nem mesmo dentro de uma mesma espécie, admite-se que as drogas presentes no mercado são efetivas apenas para 30-50% da população humana.

Na prática o que acontece é que um rato pode receber uma dose de determinada substância e metabolizá-la de maneira que ela se biotransforme em um composto tóxico. A toxicidade mata o rato, mas no ser humano essa droga poderia ser inócua, quem sabe a resposta para uma doença severa. Por outro lado, o teste em ratos pode demonstrar a segurança de uma droga que no ser humano se demonstre tóxica.

Centenas de drogas testadas e aprovadas em animais foram colocadas no mercado para uso por seres humanos e precisaram ser recolhidas poucos meses após, por haverem sido identificados efeitos adversos à população. Se as pesquisas com animais realmente pudessem prever os efeitos de drogas a seres humanos, esses eventos não teriam ocorrido. Dessa forma, pode-se inferir que a pesquisa que utiliza animais como modelo não só não beneficia seres humanos, como também potencialmente os prejudica.

O modelo de saúde que defendemos é aquele que valoriza a vida humana e animal. Os interesses da indústria farmacêutica e das instituições de pesquisa que lucram com a experimentação animal não nos dizem respeito. Buscamos por soluções reais para problemas reais.

Os maiores progressos em saúde coletiva se deram através de sucessivas mudanças no estilo de vida das populações. Há uma forte co-relação entre nossa saúde e o estilo de vida que levamos. Se nosso estilo de vida é dessa ou daquela forma, isso reflete em nossa saúde. Está claro que as doenças sejam reflexo, em grande parte, de nosso estilo de vida e que a cura deva estar em correções nesses hábitos.

APOIE AS CAMPANHAS SENTIENS PELOS ANIMAIS

Criação da 1ª Promotoria de Defesa Animal
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Contra a liberação dos maus-tratos aos animais
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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Filhotes para doação




Pessoal,

estes filhotes foram deixados na nossa academia onde fazemos yoga ontem, dia 1/06. Já doamos 4, faltam 3, duas femeas e um macho, todos amarelos. Eles já foram vermifugados, tomaram banho e devem ter pelo menos 45 dias, devem ficar de porte médio. Estão hospedados provisoriamente na casa de nossa amiga Eliane. Divulguem, que quiser adotar, manda uma mensagem para nós no

bichosterapeutas@yahoo.com.br

Eles irão para a feira da Marilu neste sábado, dia 5.


Beijos a todos.

Juliana.

A Lei Arouca: ainda continuamos a realizar pesquisas com animais

A Lei Arouca: ainda continuamos a realizar pesquisas com animais

Tagore Trajano de Almeida Silva

Sáb, 22 de Novembro de 2008 09:55
Tagore Trajano de Almeida Silva[1]

Desde o final da década de 1970, membros das organizações de proteção animal brasileiras elegeram como meta a regulamentação da lei de vivissecção. O movimento pró-regulamentação[2] buscou adequar as propostas de regulamentação da Lei 6.638/79 aos princípios dos três R's (replacement, reductione refinement), a fim de contribuir para uma maior proteção da integridade do animal.

Apenas em 1995, após diversos anos de discussão, foi proposta uma nova lei regulamentando a vivissecção. O falecido deputado Sérgio Arouca elaborou um projeto de lei para tratar especificamente sobre a questão da experimentação animal[3].

Em seguida foram realizadas discussões sobre o Projeto de Lei Arouca (PL nº 1.153 de 1995), tendo sido seguido por outro projeto em 1997, apresentado pelas principais instituições científicas do país (Projeto de lei nº 3.964 de 1997 - FESBE, SBPC, FIOCRUZ e Academia Brasileira de Ciências).

A Academia Brasileira de Ciências não concordava com a redação do projeto anterior que previa a penalização do pesquisador com prisão no caso de praticar crueldade com animal[4].

Representantes da comunidade pressionavam os membros do Congresso Nacional em busca de apoio à aprovação do projeto que regulamenta o uso de animais em experiências científicas[5]. Apenas em outubro de 2008, o projeto que tramitava há treze anos na Câmara foi aprovado.

A lei nº 11.794/08 (Lei Arouca) regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais, revogando a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979[6]. Ela foi sancionada no dia 08 de outubro de 2008 e estabelece procedimentos para o uso científico de animais.

A lei Arouca cria o Conselho Nacional de Experimentação Animal (Concea)[7], entidade que vai credenciar instituições interessadas na criação e utilização de animais para fins científicos, formulando normas para o uso dos animais[8]. Segundo essa lei, são atividades de pesquisa científica todas aquelas relacionadas com ciência básica, ciência aplicada, desenvolvimento tecnológico, produção e controle da qualidade de drogas, medicamentos, alimentos, imunobiológicos, instrumentos, ou quaisquer outros testados em animais, conforme definido em regulamento próprio[9].

Para os representantes das principais instituições científicas do país, a aprovação da lei corrobora com o desenvolvimento da ciência brasileira, desenvolvendo a medicina humana e também a medicina veterinária[10].

De forma contrária, os movimentos de proteção animal, favoráveis à abolição do uso do modelo animal para a pesquisa da cura das doenças humanas, sustentam que não se pode justificar eticamente o uso de animais vivos em experimentos dolorosos e letais, pois nenhuma vida senciente é substituída por outra.

Na pesquisa com animais, os sujeitos da experimentação são prejudicados sem que se pretenda qualquer benefício para eles, em vez disso, a intenção é obter informações que proporcionem benefício a outros[11].

De acordo com a Constituição Brasileira, deve-se reconhecer que os animais são dotados de sensibilidade, impondo a todos, o dever de se respeitar a vida, a liberdade corporal e a integridade física, proibindo expressamente as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a sua extinção ou os submetam à crueldade[12].

A Lei Federal nº 9.605/98 no §1º do seu art. 32 também se expressa nesse sentido ao afirmar ser crime ambiental a prática de experimentação nos casos em que se tem métodos alternativos.

Luís Paulo Sirvinskas[13], ao analisar o tipo penal,ressalva que não se deve admitir que as práticas de experimentação com animais possam molestar gravemente esses seres, em nome da necessidade científica que nem sempre está presente nos estudos científicos, porquanto existirem recursos alternativos.

Por isso, para George Guimarães, existiu um retrocesso científico na aprovação da lei nº 11.794/08, em que a decisão pela aprovação desprezou a luta pelos direitos dos animais, a viabilidade de métodos alternativos e principalmente a manifestação da opinião pública que se manifestou contraria a aceitação da lei Arouca[14].

Como explicar que ainda hoje, em face de tantas tecnologias e formas de obter novos conhecimentos, ainda se pratique a barbárie do uso de animais sencientes em pesquisas científicas - de caráter nem sempre claro, nem para os próprios pesquisadores?[15]

Nesse sentido concordamos com a bióloga Ellen Augusta Valer de Freitasao dizer que invés de se promover o estímulo a utilização de métodos alternativos ou substitutivos, percebe-se na legislação um retrocesso, já que a legislação visa legitimar a utilização de animais em práticas científicas, algo que, como demonstrado, não é recepcionado pelo ordenamento jurídico brasileiro, seja em sua Constituição, seja nas leis infra constitucionais.

Dos animais utilizados em experimentações, apenas 25% dos relatos sobre as experiências chegam às páginas das publicações mundiais, sendo cerca de 150 milhões de animais utilizados em procedimentos científicos e industriais, provocando terríveis sofrimentos e privações a essas criaturas em pesquisas que, na maioria das vezes,não trazem qualquer benefício para a espécie humana.

Neste atual modelo adotado para pesquisa com animais, os sujeitos da experimentação são prejudicados sem que se pretenda qualquer benefício para eles, em vez disso, a intenção é obter informações que proporcionem benefício a outras espécies. Mas é essa forma de progresso científico que nós queremos? Um progresso baseado na dor e sofrimento de uma espécie sobre as demais.

O progresso de uma nação não requer que matemos nossos companheiros, os animais, para a satisfação de nossos desejos científicos ou acadêmicos, requer sim que tratemos todas as formas de vida com consideração e respeito.



NOTAS

[1] Pesquisador e Mestrando do Programa de Pós-graduação em Direito Público da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão em Direito Ambiental e Direito Animal - NIPEDA/UFBA. Diretor do Instituto Abolicionista Animal - IAA: http://www.abolicionismoanimal.org.br/.

[2]Segundo DIAS, Edna Cardozo: As principais organizações pró-regulamentação foram: a Sociedade Zoófila Educativa - SOZED, a Associação Protetora dos Animais - RJ, a Liga Brasileira dos Direitos dos Animais - RJ e da União Protetora dos Animais - UIPA. Experimentos com animais na legislação brasileira. In Fórum de Direito Urbano e Ambiental - FDUA, Belo Horizonte. ano 4. n.24. p. 2909-2926, nov/dez. 2005.

[3] CARDOSO, Célia Virginia Pereira. In Leis Referentes à Experimentação Animal no Brasil - Situação Atual. Disponível no sítio: . Acessado em: 02 de dez. de 2007.

[4] DIAS, Edna Cardozo. Experimentos com animais na legislação brasileira. In Fórum de Direito Urbano e Ambiental - FDUA, Belo Horizonte. ano 4. n.24. p. 2909-2926, nov/dez. 2005.

[5] ÉBOLI, Evandro. Cientistas pedem ao Congresso regulamentação do uso em laboratório. In Jornal O Globo. Rio de Janeiro: Ciência, 14.11.2007. p. 34

[6] DIAS, Edna Cardozo. Experimentos com animais na legislação brasileira. In Fórum de Direito Urbano e Ambiental - FDUA, Belo Horizonte, ano 4, n.24, p. 2909-2926, nov/dez.2005.

[7] Segundo Augusto Castro, o Concea terá a atribuição de monitorar e avaliar a introduçãode técnicas alternativas que substituam o uso de animais tanto no ensino quanto nas pesquisas científicas. A meta do projeto é evitar ao máximo o sofrimento e a dor no animal submetido a procedimentos em laboratórios. Não estão incluídas entre as atividades de pesquisa as zootécnicas ligadas à agropecuária. In Aprovado projeto que regulamenta procedimentos para o uso de animais em experiências científicas. Data de Publicação: 9 de setembro de 2008. Disponível em: http://www.senado.gov.br/Agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=78255&codAplicativo=2. Acessado em: 30 de outubro de 2008.

[8] CASTRO, Augusto. Aprovado projeto que regulamenta procedimentos para o uso de animais em experiências científicas. Data de Publicação: 9 de setembro de 2008. Disponível em: http://www.senado.gov.br/Agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=78255&codAplicativo=2. Acessado em: 30 de outubro de 2008.

[9] DIAS, Edna Cardozo. Experimentos com animais na legislação brasileira. In Fórum de Direito Urbano e Ambiental - FDUA, Belo Horizonte, ano 4, n.24, p. 2909-2926, nov/dez.2005.

[10] ÉBOLI, Evandro. Cientistas pedem ao Congresso regulamentação do uso em laboratório. In Jornal O Globo. Rio de Janeiro: Ciência, 14.11.2007. p. 34

[11] REGAN, Tom. Jaulas Vazias: encarando o desafio dos direitos animais. Porto Alegre: Lugano, 2006. p. 213.

[12] SANTANA, Heron José. Abolicionismo Animal. 2006. Tese (Doutorado). FadUFPE - Recife. p. 160.

[13] SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela penal do meio ambiente: breves considerações atinentes à lei n. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. 2.ed. São Paulo: saraiva, 2002. p.130.

[14] GUIMARÃES, George. O Fim da experimentação animal: certo, ainda que adiado. In Pensata Animal. ano II. nº. 16. out/2008 Disponível em: http://www.pensataanimal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=65&Itemid=1. Acessado em: 30 de outubro de 2008.

[15] FREITAS, Ellen Augusta Valer de. Lei Arouca: as bases genéticas da falta de percepção. Disponível em http://www.pensataanimal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=69:
leiaroucaasbases&catid=65:ellenavfreitas&Itemid=1. Acessado em: 13 de novembro de 2008.

Texto inédito.


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 Tagore Trajano de Almeida Silva
tagore@ufba.br

Pesquisador e mestrando do Programa de Pós-graduação em Direito Público da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão em Direito Ambiental e Direito Animal – NIPEDA/UFBA. Diretor do Instituto Abolicionista Animal – IAA: www.abolicionismoanimal.org.br.


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Pensata Animal nº 17 - Novembro de 2008 - www.pensataanimal.net

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terça-feira, 1 de junho de 2010

Sacrifício de animais: um absurdo

Sacrifício de animais
Sérgio Greif
Seg, 13 de Agosto de 2007 00:00

O sacrifício de animais em rituais religiosos é prática mal vista pela sociedade ocidental de uma maneira geral, tanto devido à crueldade envolvida quanto devido à má impressão visual que causam, associação dessas práticas com feitiçaria etc. No entanto, muitas das pessoas que demonizam as religiões onde animais ainda são sacrificados ignoram que a crueldade envolvida no sacrifício de animais é similar à crueldade praticada quando o animal é abatido para consumo, seja por qual método seja.

A demonização dessas religiões, mais do que uma oposição ao sacrifício propriamente dito, denota um preconceito contra determinado sistema de crenças. Denota ignorância quanto ao fato de que todas as antigas religiões praticaram, em algum momento de sua história, o sacrifício de animais e/ou de seres humanos. O sacrifício está na raiz da maioria das religiões, ele não se configura em um ato isolado de determinado grupo. Condenar determinado sistema de crenças, qualificá-lo como inferior ou primitivo, em nada contribui com a causa animal. Todos os sistemas de crenças devem ser respeitados e dentro desse conceito, soluções devem ser buscadas para o problema do sacrifício de animais, jamais aceitando-o ou regulamentando-o, mas entendendo suas origens e buscando uma solução que se harmonize com as crenças dos grupos.

Sacrifício é a prática de oferecer alimento, ou a vida de animais ou pessoas, às divindades, como forma de culto. O termo deriva dos radicais ‘sacro' e ‘oficio', ou seja, oficio sagrado. Os motivos para a prática de sacrifícios são variáveis, conforme o sistema de crenças de cada religião. Em algumas religiões, a palavra utilizada para sacrifício está associada à palavra "aproximação", pois acredita-se que o sacrifício aproxima o devoto de sua divindade.

Alguns povos no passado acreditavam que parte do poder dos deuses só podia ser conservada às custas de constantes sacrifícios. Outros acreditavam que os sacrifícios não interferiam no poder dos deuses, mas sim os agradavam, de forma que colocavam o devoto em posição de negociar algum favor.

Havia também sacrifícios para aplacar a ira dos deuses. Animais ou seres humanos podiam ser ofertados como forma de expiar pelos pecados da comunidade. Os sacrifícios desempenhavam função social importante dentro de certos sistemas, pois eram uma forma do devoto oferecer alguma contribuição à instituição religiosa, uma forma de prover alimento para os sacerdotes e para os mais pobres. Dessa forma, após serem oferecidos aos deuses, os animais eram consumidos pelo devoto, pelos sacerdotes ou distribuídos aos pobres.

Os sacrifícios eram práticas diárias nas mais avançadas sociedades americanas pré-colombianas, sendo que algumas destas sociedades praticavam o sacrifício de seres humanos. A sociedade hebréia, os pagãos e animistas de todos os continentes, os romanos, gregos, os muçulmanos e as religiões derivadas dos cultos africanos, todas recorreram ou recorrem ao sacrifício de animais.

Os sacrifícios na sociedade hebréia

O primeiro sacrifício de animais citado na Bíblia foi realizado por Abel (Gen. 4:4), no entanto, este sacrifício e o realizado por Noé (Gen. 8:20) precedem o advento da religião judaica. Dentre os patriarcas, Abraão ofereceu um sacrifício de carneiro (Gen. 22:13) e Jacó é descrito como oferecendo dois sacrifícios, embora o texto não especifique o que tenha sido ofertado (Gen. 31:54 e Gen. 46:1).

O sacrifício de animais parece não ter sido estranho aos israelitas na época de escravidão no Egito (Êxodo 3:18), embora não haja evidencias de que isto fosse praticado neste período. Já na época do êxodo do Egito, os israelitas foram proibidos de imolar animais exceto como ofertas sacrificiais. Uma pessoa que abatesse um animal sem ofertá-lo no tabernáculo era considerado culpado por sua morte (Lev. 17:3-4). Já em Israel, os sacrifícios passaram a ocorrer no pátio do Grande Templo, em Jerusalém. (Lev 17:1-9, Deut. 12.5-7). Esporadicamente, outros lugares que não o Templo eram utilizados para sacrifícios (Juizes 2:5; Juizes 6:18-21, 25 e 1 Reis 18:23-38).

O livro de Levítico descreve em detalhes quais tipos de oferendas podiam ser oferecidas em cada ocasião e de que forma o sacrifício deveria ocorrer. As oferendas eram derivadas de vegetais (farinha, azeite, trigo torrado, bolos, incenso, vinho, etc), animais (bois, cabras, carneiros, pombas, rolinhas etc) e em alguns casos minerais (sal).

Os sacrifícios eram classificados como:

- Sacrifício de expiação pelo pecado (Lev 4 e Lev. 6:24-30): Dependendo de quem cometeu o pecado e das condições em que fora cometido, eram ofertados novilhos, bodes ou cabras.

- Oferta pela culpa ou holocausto (Lev. 5, Lev. 6:1-13 e Lev. 7:1-10): Eram ofertados carneiros, cordeiras e cabritas, mas os menos abastados podia ofertar pombas, rolas ou mesmo farinha (fermentada ou não).

- Sacrifícios pacíficos ou de ação de graças (Lev 3; Lev. 7:11-20): Era um sacrifício queimado para agradar a Deus. Eram sacrificados bois, cabras e carneiros, mas também bolos de farinha com azeite, não fermentados.

- Oferta de manjares (Lev. 2:1-11 e Lev. 6:14-23): Era um sacrifício queimado para agradar a Deus. Eram usadas preparações à base de vegetais não fermentados e sal.

- Ofertas de primícias (Lev. 2:12-16): O propósito era agradecer pela abundância da colheita. Eram oferecidos os primeiros grãos coletados, ainda verdes, azeite e mel.

Maimônides (1135-1204) explica que os judeus na verdade não tinham a necessidade de realizar sacrifícios para Deus, mas isto passou a ser praticado em Israel por influência das tribos pagãs que viviam ao redor. Estes povos utilizavam estes rituais como forma de aproximar-se de suas divindades. De acordo com Maimônides, se um sistema não houvesse sido criado para que os israelitas praticassem rituais semelhantes aos pagãos para se aproximarem de seu Deus, possivelmente sacrificariam para deuses estrangeiros. Maimônides concluiu que a decisão de Deus de permitir sacrifícios era uma concessão às limitações psicológicas do homem, e não uma necessidade religiosa real.

De fato, na Biblia há muitas passagens que mostram que o Deus de Israel na verdade buscava pelas orações e o sincero arrependimento, e não o sacrifício:

"Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres." (Salmo 40:6).

"Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos.Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus." (Salmos 51:16-17).

"De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? - diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer." (Isaias 1:11-14)

"E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados." (Amós 5:22)

"Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Perdoa toda iniqüidade, aceita o que é bom e, em vez de novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios." (Oséias 14:2)

Os sacrifícios foram abolidos há dois mil anos da sociedade hebréia, sendo substituído por orações.

Sacrifícios no cristianismo

O cristianismo, como religião, jamais utilizou como prática o ritual de sacrifícios, mas cristãos primitivos sem dúvida praticavam sacrifícios no Templo de Jerusalém até sua destruição no ano 70 d.C. Portanto cristãos e judeus deixaram de praticar sacrifícios de animais na mesma época. Há, no entanto, resquícios de práticas sacrificiais pagãs européias na tradição católica (touradas etc), o que mostra que pelo menos no início da cristianização da Europa, estes sacrifícios foram continuados, até sua definitiva incorporação à nova religião.

Na teologia cristã moderna, os sacrifícios não têm lugar visto que Cristo ofereceu-se a sim mesmo como sacrifício universal. A mera fé nisto conduz o devoto à salvação. No entanto, o culto e a eucaristia são práticas que remontam ao sacrifício, sendo a hóstia (no caso católico), a oferenda de carne. O simples fato de Jesus haver sido considerado uma oferenda válida mostra, porém, que o cristianismo aceita, teologicamente, a validade dos sacrifícios. Com efeito, o cristianismo não faria sentido sem a idéia de que Jesus serviu como um cordeiro sacrificial, para expiar pelos pecados do mundo.

Sacrifícios no islã

O período de peregrinação à Mecca (Hajj) é marcado por um rito sacrificial denominado Eid-ul-Adha (comemoração do sacrifício). Este sacrifício lembra que Abraão esteve prestes a sacrificar seu filho (que, de acordo com a tradição muçulmana não era Isaque, mas Ismael). Após as orações, aquele que têm condições leva um cabrito, uma cabra, uma ovelha, um camelo ou uma vaca, para serem sacrificados. A carne destes sacrifícios é compartilhada com a família e os amigos e um terço é dada aos pobres. Todos estes preceitos estão contidos na Surata Al-Hajj (o capítulo do Al-Corão que trata da peregrinação a Mecca).

No Al-Corão (22:37) está explicado que Deus não se beneficia da carne nem do sangue dos animais que são sacrificados, mas que a fé do devoto e sua boa intenção é que são considerados. O animal deve ser abatido tendo sua jugular cortada e seu sangue drenado. Não é permitido dar marretadas, eletrochoques ou perfurar o animal com qualquer objeto. Esta carne, apenas assim é considerada Halal, própria para consumo.

Sacrifícios no hinduísmo

O Yajurveda, um dos quatro Vedas, contém grande parte da liturgia e dos rituais necessários para a prática religiosa hindu. Isto inclui os ritos sacrificiais. No período de 1000 a.C. a 800 a.C., o hinduísmo passou a basear seu sistema de crenças na constante necessidade de sacrifícios. A população podia consumir a carne apenas de animais abatidos por brâmanes (sacerdotes). Neste período surgiu no hinduísmo o sistema de castas, o conceito de reencarnação e a concepção de que almas animais podiam evoluir até a condição humana.

Textos como o Ramaiana e outros demonstram que os sacrifícios de animais eram comuns na prática religiosa hindu. No século VI a.C., no entanto, devido a pressões ecológicas e o advento de novas concepções religiosas, os sacrifícios foram abandonado em sua maior parte. Neste período, seguindo o desprezo pelos sacrifícios, a salvação da alma passa a estar atrelada às boas ações do indivíduo, entre elas evitar causar mal aos animais.

Por não ser, no entanto, uma religião organizada, o hinduísmo permite uma variedade de rituais nitidamente destoantes. Ao passo que na maior parte dos lugares os Templos abriguem animais desamparados e os devotos lhes ofereçam alimentos como parte de seu rito, em outras regiões mais isoladas e menos abastadas animais e mesmo seres humanos continuam a serem sacrificados.

Isto é especialmente verdadeiro nos templos dedicados á deusa Kali: Em 14 de junho de 2003 um homem tentou sacrificar sua filha no Templo de Kamakhya, tendo sido detido pelos sacerdotes e preso pela policia. Na aldeia de Parsari, distrito de Sagar, em Madhya Pradesh, um sacerdote hindu foi preso em 27 de março de 2003 por sacrificar um homem. Embora sacrifícios humanos sejam proibidos, eles continuam a acontecer na Índia.

Sacrifícios eram também praticados em outras antigas religiões da Ásia. Confúcio descreve a existência de sacrifícios na China do século VI a.C.

Sacrifícios pagãos

O sacrifício de animais e seres humanos foi praticado por pagãos de todos os continentes. Muito se tem discutido sobre a condição dos druidas (sacerdotes celtas), se eles eram pessoas pacíficas e simpáticas ou, como nos queriam fazer crer os romanos, bárbaros sanguinários. É possível que tenham sido ambos, um pouco dos dois. Há evidências arqueológicas de que na religião celta havia sacrifícios de seres humanos, ainda que raramente. Os relatos de historiadores romanos e cristãos a esse respeito, embora provavelmente exagerados, dão alguma idéia da forma como esses rituais ocorriam.

Já com relação aos astecas, sabe-se que praticavam rituais de sacrifício humano praticamente diários. Esta era a forma que encontravam para aplacar a fúria do deus Huitzilopochtli, representado pelo Sol, e desta forma evitar catástrofes. Isto os colocava em constante guerra com seus vizinhos, pois com o intuito de evitar o sacrifício de seus próprios, sacrificava-se prisioneiros de guerra. Da mesma forma, os sacrifícios eram praticados na sociedade maia.

Sacrifícios eram praticados na cultura cretense minóica, pré-helênica, mas é possível que não como parte dos ritos diários, mas em casos especiais como para aplacar a ira dos deuses durante desastres naturais. Os sacrifícios durante este período evidenciam-se, além da arqueologia, pela perpetração de lendas relativas aos minóicos, como aquela em que a cidade de Atenas precisava enviar todos os anos sete rapazes e sete moças para Creta, para serem oferecidas ao Minotauro. Gregos e romanos ofereciam sacrifícios, principalmente de animais, em honra dos deuses.

Sacrifícios nas religiões africanas

A maioria das religiões africanas ainda pratica o sacrifício de animais e, em casos mais velados, também de seres humanos. Na antiga religião Zulu, ainda praticada na África do Sul, pessoas podem ser mortas não como parte de um sacrifício ritual, mas para que alguma parte de seu corpo seja utilizada como medicamento (Muti). Nesta forma de medicina, o pênis de um menino pode ser requerido pelo sangoma (curandeiro) para elaborar um elixir contra a impotência ou o estupro de uma virgem pode ser necessário para curar alguém de AIDS.

Os ritos sacrificiais africanos, trazidos para a América do Sul e Caribe no período colonial, ainda são praticados em muitas comunidades.

No candomblé, o sacrifício de animais é praticado pelo Axogun ou pelo Babalorixá. O primeiro que deve receber os sacrifícios é Exu, a quem é oferecida uma galinha. Em seguida o Orixá que se pretende contatar recebe sua oferta, sempre um animal quadrúpedes. Após morto e oferecido no ritual, o animal é consumido pelos devotos e seu couro pode ser utilizado para a confecção de instrumentos musicais.

No candomblé o sangue não apenas é vida, como possui uma energia elementar. O sangue e as visceras dos animais tem o objetivo de produzir axé, energia vital.

Apesar disto, há seguidores do candomblé que opõem-se à pratica de sacrifícios de animais, como é o caso do Pai-de-Santo Agenor Miranda Rocha.

Caio de Omulu não questiona a validade, ou necessidade, do uso de animais dentro da umbanda, mas sim sua freqüência. Prega que tais rituais deveriam ser exceção e não única prática como vem sendo realizado.

Não querendo discutir a validade do sacrifício no contexto do sistema de crenças de qualquer religião, a mera existência de locais onde estas mesmas religiões são praticadas sem a necessidade de sacrifícios de animais, rituais estes reconhecidos pelos centros onde animais ainda são utilizados, demonstra que a utilização de animais não é necessária. O ritual cumpre uma função que, mais do que uma obrigatoriedade religiosa, configura-se em uma forte impressão psicológica no devoto que a pratica.

Conclusões

Seja qual for a religião que pratiquemos ou não pratiquemos qualquer religião, um princípio que devemos ter claro é que o movimento abolicionista jamais deverá ser um movimento anti-religioso ou contra uma religião específica. Devemos procurar nos opor ao sacrifício de animais sem desmerecer o complexo de crenças dos indivíduos, porque a causa abolicionista não deve discriminar uma ou outra religião. As mesmas críticas que atualmente são dirigidas às religiões afro-brasileiras poderiam ser dirigidas a qualquer religião, porque o especismo encontra-se fundamentado em todos os povos, todas as religiões.

Devemos trabalhar, sim, a extinção do especismo em todas as religiões, porque embora ele esteja nelas impregnado, não é delas parte integrante. Queremos dizer que respeitamos a liberdade de culto e de fé, mas que isso não justifica a retirada de vidas. Queremos dizer que não somos superiores nem inferiores, e que também descendemos de povos e religiões que sacrificaram animais. Queremos dizer que o sacrifício de animais pode hoje fazer parte dos rituais de certa religião, mas que não precisaria ser assim; que eu outros lugares a mesma religião é praticada e que animais não são mortos.

Porque aquele que combate o sacrifício de animais desmerecendo a fé de um ser humano provavelmente não dispõe de qualidade moral suficiente para perceber que a utilização de animais para outros fins, o que erroneamente também pode ser chamado ‘sacrifício', pode ser considerado tão ou mais sanguinário. Opondo-se ao sacrifício ritual, a pessoa não vê problema em consumir a carne de um animal abatido dentro de uma instituição que preze por seu "bem-estar". Hipocrisia.

Porque se dentro daquela crença o sacrifício de animais agrada a um ser divino, aquele que condena esse ritual mas não o ritual diário em torno da mesa nas três refeições diárias, em verdade se coloca como um ser mais do que divino, a quem o "sacrifício" de animais para satisfação do apetite não fere nenhum conceito moral.

botao_ineditoTexto inédito.

Sérgio Greif

Sérgio Greif
sergio_greif@yahoo.com



Biólogo, mestre em Alimentos e Nutrição, co-autor do livro "A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo" e autor de "Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável".

Pensata Animal nº 4 - Agosto de 2007 - www.pensataanimal.net