Encontro Nacional de Diretos Animais 2010
Discutindo o movimento, nutrindo-se nas diferenças e capacitando nossos ativistas
Um movimento eficiente só é possível com ativistas capacitados e inspirados.
O ENDA é o único evento nacional feito de ativistas para ativistas,
oferecendo aos presentes a oportunidade de compartilhar, aprender, conviver e recarregar as baterias
para formarmos um movimento forte e eficiente
09 a 12 de outubro de 2010
Porangaba, São Paulo
As melhores mentes do movimento brasileiro em mais 40 palestras
Aprendizado e confraternização em quatro dias de convivência intensa com ativistas de todo o Brasil
Informação, capacitação e momentos de descontração (mergulho no lago, show de talentos, fogueira) na companhia de pessoas que lutam pela mesma causa.
Inscrições com valor reduzido no mês de agosto. O valor da inscrição já inclui a hospedagem e a alimentação
Acesse www.enda.org.br e veja a grade de palestrantes, fotos, vídeos, depoimentos e valores para inscrição.
Realização:
VEDDAS – Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade
www.veddas.org.br
Blog que mostra a verdadeira essência da vida animal e como podemos viver em harmonia com estas criaturas tão incompreendidas e massacradas pela humanidade. Seja bem vindo! Por amor aos animais!
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Ainda sobre os modelos animais...
Ainda sobre os modelos animais...
Por Paula Brügger - brugger@ccb.ufsc.br
No texto passado* coloquei, resumidamente, as principais razões que nos levam a discordar da eficácia dos modelos animais para estudar diversos males que acometem os humanos, ou desenvolver medicamentos, terapias etc. Esse assunto polêmico despertou o interesse de muita gente, uma vez que no ideário dominante os experimentos com animais são uma espécie de mal necessário. Isso é compreensível. Afinal, os meios de comunicação não cessam de dar destaque às descobertas de drogas ou terapias a partir de modelos animais. Entretanto, quando a mesma droga ou terapia se mostra ineficiente em humanos, a notícia nunca é matéria de primeira página. É claro que tudo isso acaba reforçando a fé nos modelos animais, ou seja, a impressão de que eles funcionam de fato e que, mesmo em alguns casos de total fracasso, faltou realmente muito pouco para se chegar a um resultado bem-sucedido.
Sobre o sucesso dos modelos animais
Os defensores dos modelos animais alegam que muitos medicamentos, procedimentos cirúrgicos ou terapias, por exemplo, dependeram da experimentação animal, ou foram descobertos usando animais como modelos. Entretanto, o que os defensores de tais experimentos não desejam discutir é o índice de sucesso dessa forma de estudar e construir conhecimento. Salvo em casos nos quais os modelos animais tenham sido rigorosamente validados (mas isso implica a morte de milhões deles!), os dados corretos, aparentemente obtidos a partir de modelos animais, são fruto da coincidência e do acaso, ou de pistas fornecidas por outros campos de pesquisa. Não refletem o resultado de uma empreitada verdadeiramente científica, uma vez que não implicam num conhecimento minucioso dos complexos mecanismos presentes nos processos estudados. Tais acertos parecem refletir nada mais do que um pequeno percentual bem-sucedido de meras tentativas e, com isso, não diferem significativamente de outras situações como os índices de acerto em cestas de basquete, por exemplo, por parte de pessoas que não dominam tal esporte.
Outras formas de construir conhecimento
Muitos médicos e cientistas anti-vivisseccionistas afirmam que os animais não precisam fazer parte da descoberta de novas drogas. Segundo os doutores Jean e Ray Greek, por exemplo, existem apenas quatro formas testadas e verdadeiras para se encontrar novas drogas. A primeira seria descobrir novas substâncias na natureza como fizerem nossos ancestrais. A segunda, pouco explorada, é descobrir um valor de cura novo em um medicamento já existente (como o potencial do triclosan para malária); a terceira se constitui na modificação da estrutura química de um medicamento para melhorá-lo, ou para criar uma nova versão para o mercado (como é o caso do antibiótico Zyvox); e a quarta e mais interessante delas é "desenhar" um novo medicamento baseado em uma ação desejada. Essa é a alternativa que traz mais inovação na farmacologia moderna (envolve química combinatória; CADD computer-aided drug design, ou "desenho" de drogas por meio de computador; técnicas de análise in vitro, etc). Como exemplo dessa quarta via, os Greek citam os fármacos contra o HIV. Eles e outros autores sugerem que se elimine a etapa dos testes com animais e, em vez disso, se aumente a já existente fase de estudos clínicos com humanos. Tal medida seria da maior importância. Kathy Archibald, diretora científica do grupo "Europeans For Medical Progress", destaca que nenhum método - seja ele baseado em animais, seres humanos, ou tubos de ensaio - é capaz de prever as reações dos pacientes com 100% de precisão. As reações diferem de acordo com sexo, idade, grupo étnico e mesmo entre membros da mesma família. Somos todos diferentes, bioquimicamente únicos, embora não tão diferentes uns dos outros quanto somos dos animais, é claro. Por exemplo, apesar de todos os genomas humanos terem mais 99,9% de identidade, a pequena proporção de 0,1% de diferença pode produzir uns três milhões de polimorfismos. Muitos deles não têm efeito, mas os que têm impacto na expressão e função de proteínas podem afetar o funcionamento de drogas (no caso de a proteína em questão estar ligada ao funcionamento da droga). Alguns exemplos importantes estão relacionados ao metabolismo do colesterol, à manifestação da asma e aos transmissores de serotonina. Tudo isso só reforça a idéia de que usar animais em estudos é ineficaz e antiético, pois nenhuma dessas particularidades pode ser descoberta nos modelos animais. Archibald destaca que a massiva ênfase na confiabilidade dos dados provenientes da experimentação animal permite que as companhias farmacêuticas evitem conduzir etapas clínicas mais criteriosas, mais representativas, com mais pessoas e durante mais tempo. Ela afirma ainda que os testes com animais são feitos por razões legais e não científicas, pois isso protege as empresas contra processos decorrentes de efeitos colaterais prejudiciais ou letais.
Bibliografia
ARCHIBALD, Kathy. Animal testing: science or fiction? The Ecologist, maio. 2005: 14-17.
GREEK, Ray & GREEK, Jean. Specious Science: How Genetics and Evolution Reveal Why Medical Research on Animals Harms Humans. London, New York: Continuum, 2003.
* Referência ao texto Porque somos contra os modelos animais - o reducionismo como base da falibilidade dos modelos animais, publicado na revista Pensata Animal em 16/10/2007.
Por Paula Brügger - brugger@ccb.ufsc.br
No texto passado* coloquei, resumidamente, as principais razões que nos levam a discordar da eficácia dos modelos animais para estudar diversos males que acometem os humanos, ou desenvolver medicamentos, terapias etc. Esse assunto polêmico despertou o interesse de muita gente, uma vez que no ideário dominante os experimentos com animais são uma espécie de mal necessário. Isso é compreensível. Afinal, os meios de comunicação não cessam de dar destaque às descobertas de drogas ou terapias a partir de modelos animais. Entretanto, quando a mesma droga ou terapia se mostra ineficiente em humanos, a notícia nunca é matéria de primeira página. É claro que tudo isso acaba reforçando a fé nos modelos animais, ou seja, a impressão de que eles funcionam de fato e que, mesmo em alguns casos de total fracasso, faltou realmente muito pouco para se chegar a um resultado bem-sucedido.
Sobre o sucesso dos modelos animais
Os defensores dos modelos animais alegam que muitos medicamentos, procedimentos cirúrgicos ou terapias, por exemplo, dependeram da experimentação animal, ou foram descobertos usando animais como modelos. Entretanto, o que os defensores de tais experimentos não desejam discutir é o índice de sucesso dessa forma de estudar e construir conhecimento. Salvo em casos nos quais os modelos animais tenham sido rigorosamente validados (mas isso implica a morte de milhões deles!), os dados corretos, aparentemente obtidos a partir de modelos animais, são fruto da coincidência e do acaso, ou de pistas fornecidas por outros campos de pesquisa. Não refletem o resultado de uma empreitada verdadeiramente científica, uma vez que não implicam num conhecimento minucioso dos complexos mecanismos presentes nos processos estudados. Tais acertos parecem refletir nada mais do que um pequeno percentual bem-sucedido de meras tentativas e, com isso, não diferem significativamente de outras situações como os índices de acerto em cestas de basquete, por exemplo, por parte de pessoas que não dominam tal esporte.
Outras formas de construir conhecimento
Muitos médicos e cientistas anti-vivisseccionistas afirmam que os animais não precisam fazer parte da descoberta de novas drogas. Segundo os doutores Jean e Ray Greek, por exemplo, existem apenas quatro formas testadas e verdadeiras para se encontrar novas drogas. A primeira seria descobrir novas substâncias na natureza como fizerem nossos ancestrais. A segunda, pouco explorada, é descobrir um valor de cura novo em um medicamento já existente (como o potencial do triclosan para malária); a terceira se constitui na modificação da estrutura química de um medicamento para melhorá-lo, ou para criar uma nova versão para o mercado (como é o caso do antibiótico Zyvox); e a quarta e mais interessante delas é "desenhar" um novo medicamento baseado em uma ação desejada. Essa é a alternativa que traz mais inovação na farmacologia moderna (envolve química combinatória; CADD computer-aided drug design, ou "desenho" de drogas por meio de computador; técnicas de análise in vitro, etc). Como exemplo dessa quarta via, os Greek citam os fármacos contra o HIV. Eles e outros autores sugerem que se elimine a etapa dos testes com animais e, em vez disso, se aumente a já existente fase de estudos clínicos com humanos. Tal medida seria da maior importância. Kathy Archibald, diretora científica do grupo "Europeans For Medical Progress", destaca que nenhum método - seja ele baseado em animais, seres humanos, ou tubos de ensaio - é capaz de prever as reações dos pacientes com 100% de precisão. As reações diferem de acordo com sexo, idade, grupo étnico e mesmo entre membros da mesma família. Somos todos diferentes, bioquimicamente únicos, embora não tão diferentes uns dos outros quanto somos dos animais, é claro. Por exemplo, apesar de todos os genomas humanos terem mais 99,9% de identidade, a pequena proporção de 0,1% de diferença pode produzir uns três milhões de polimorfismos. Muitos deles não têm efeito, mas os que têm impacto na expressão e função de proteínas podem afetar o funcionamento de drogas (no caso de a proteína em questão estar ligada ao funcionamento da droga). Alguns exemplos importantes estão relacionados ao metabolismo do colesterol, à manifestação da asma e aos transmissores de serotonina. Tudo isso só reforça a idéia de que usar animais em estudos é ineficaz e antiético, pois nenhuma dessas particularidades pode ser descoberta nos modelos animais. Archibald destaca que a massiva ênfase na confiabilidade dos dados provenientes da experimentação animal permite que as companhias farmacêuticas evitem conduzir etapas clínicas mais criteriosas, mais representativas, com mais pessoas e durante mais tempo. Ela afirma ainda que os testes com animais são feitos por razões legais e não científicas, pois isso protege as empresas contra processos decorrentes de efeitos colaterais prejudiciais ou letais.
Bibliografia
ARCHIBALD, Kathy. Animal testing: science or fiction? The Ecologist, maio. 2005: 14-17.
GREEK, Ray & GREEK, Jean. Specious Science: How Genetics and Evolution Reveal Why Medical Research on Animals Harms Humans. London, New York: Continuum, 2003.
* Referência ao texto Porque somos contra os modelos animais - o reducionismo como base da falibilidade dos modelos animais, publicado na revista Pensata Animal em 16/10/2007.
Porque somos contra os modelos animais
Porque somos contra os modelos animais - o reducionismo como base da falibilidade dos modelos animais
Paula Brügger
Dom, 16 de Dezembro de 2007 00:00
Além de indefensável sob o ponto de vista ético, uma vez que submete seres sencientes1 ao sofrimento físico e psicológico (Singer, 1998; Regan, 2001), a vivissecção2 é uma prática que falha em pelo menos um critério fundamental para que seja considerada verdadeiramente científica: predictabilidade. Antes de tecer algumas considerações acerca das razões de ordem epistemológica subjacentes aos resultados pífios provenientes dos modelos animais, gostaria de remeter o leitor a alguns contextos e dados que ilustram a afirmação feita anteriormente.
No que diz respeito a medicamentos, por exemplo, apesar da enorme quantidade de cobaias mortos para supostamente assegurar a eficácia e testar os efeitos colaterais de novas drogas, Greek & Greek (2000, p.117) destacam que "segundo a organização Pharmaceutical Research and Manufacturers of America, apenas 1% dos novos medicamentos testados em laboratórios vão para o estágio clínico (em que são testados em voluntários humanos). Dos que chegam ao mercado, muitos apresentam sérios efeitos colaterais e riscos não previstos. "Uma revisão realizada pelo governo americano nas drogas lançadas entre 1976 e 1985 revelou que 51,5% delas ofereciam riscos não previstos nos testes" (Barnard & Kaufman, 1997, p.81). Greek & Greek (2000, p.58) destacam que, "a cada ano, dezenas de milhares de pessoas adoecem devido ao uso de fármacos legalmente vendidos. Archibald (2005), que argumenta no mesmo sentido, afirma ainda que os efeitos colaterais de medicamentos prescritos estão entre as primeiras causas de mortes no Ocidente3. Ela cita o caso recente do Vioxx - um fármaco para combater a artrite - que foi retirado do mercado global em setembro de 2004, após ter causado 140.000 casos de ataques cardíacos e derrames somente nos EUA. O fármaco, quando testado em animais não-humanos, se mostrou seguro e até benéfico para o coração deles. Outro exemplo que merece destaque é o das terapias de reposição hormonal. Prescritas para milhões de mulheres, porque diminuíam o risco de doenças cardíacas e derrame em macacos, tais terapias aumentaram significativamente o risco dessas doenças em mulheres e ainda provocaram 20.000 casos de câncer de mama. Archibald cita diversos outros fármacos que matam4 e Greek & Greek (2003, p.112-115) também apresentam uma longa lista de medicamentos retirados do mercado, na Grã-Bretanha e EUA, por conta dos seus gravíssimos efeitos colaterais (que incluem morte). Eles destacam que as drogas listadas representam uma pequena parte da calamidade total. A lista completa é quase inumerável, dizem eles, uma vez que muitos problemas sequer foram relatados.
E por que razão tais drogas são ineficazes e até perigosas? Porque os dados provenientes de testes com animais não-humanos são caóticos e não confiáveis. Eis um exemplo emblemático: "pesquisadores escolheram 6 drogas com efeitos colaterais conhecidos em humanos. Os testes com animais corretamente previram 22 efeitos colaterais, mas incorretamente apresentaram 48 efeitos que não ocorriam em humanos. E mais, os testes em animais não previram 20 efeitos colaterais que ocorrem nos humanos. Portanto, os modelos animais erraram 68 vezes em 90. Assim, em 76% das vezes, os resultados provenientes de experimentos com animais estavam errados" (Lumley and Walker apud Greek & Greek, 2003, p.111)
O modelo animal é falho porque existem diferenças, entre nós e eles, na anatomia, na fisiologia, nas interações ambientais, nos tipos de alimentos ingeridos, etc, que resultam na não-correspondência na absorção, distribuição e metabolismo de substâncias. Ademais, as condições de laboratório são mais controladas do que na vida humana e as doses administradas aos animais podem ser muito maiores do que as prescritas aos humanos, em termos de peso corporal. Portanto, fora o fato de que as vias de inoculação de diferentes substâncias - se oral, anal, peritonial, vaginal, etc - podem exercer uma grande influência sobre o resultado dos testes, a dosagem pode ser também um fator crucial.
Fano (2000), por exemplo, destaca que muitos testes com animais ocorrem em condições (dosagens, métodos, etc) que não têm similaridade com a vida real. Em um experimento envolvendo o adoçante ciclamato, os animais receberam o equivalente humano a 552 garrafas de refrigerantes por dia. Em dois experimentos com tricloroetileno (usado como agente descafeinizante em café) os ratos receberam uma dose equivalente a 50 milhões de xícaras de café por dia. Isso pode falsificar os resultados de duas maneiras: pode envenenar as células e tecidos, tão severamente, a ponto de prevenir uma resposta carcinogênica que em outras condições poderia ocorrer; ou pode sobrecarregar, ou mudar, os processos metabólicos e causar uma resposta carcinogênica que poderia não ocorrer, conclui ela.
Além disso, a velocidade do metabolismo dos animais é variável. Animais de laboratório são em geral menores do que os humanos e, com isso, têm um metabolismo muito mais intenso. Dessa forma, eliminam toxinas mais rapidamente do que os humanos, o que pode impedir que os efeitos tóxicos apareçam, como observa Fano.
Apesar de os vivisseccionistas afirmarem que ratos e camundongos se constituem em bons modelos para estudar doenças e outras condições ou males que acometem os humanos, há expressivas diferenças entre eles e nós. Segundo Greek & Greek (2003, p.121), "ratos respiram obrigatoriamente pelo nariz, o que pode alterar a forma de entrada de uma substância pela corrente sanguínea; a placenta é consideravelmente mais porosa nos ratos do que na espécie humana; devido a diferenças na distribuição da microflora intestinal, eles são muito mais propensos a metabolizar um composto administrado oralmente em um metabólito ativo, ou tóxico; a secreção de ácido no interior do estômago deles é contínua, enquanto no dos humanos ela ocorre apenas em resposta à presença de alimentos, ou outros estímulos. Os ratos são ainda animais de hábito noturno, susceptíveis a doenças diferentes das nossas, têm requerimentos nutricionais também diferentes e são incapazes de vomitar. Todas essas peculiaridades (anatômicas, fisiológicas, etc) afetam a absorção, a farmacocinética e o metabolismo de compostos, ou causam reações inesperadas com relação a um composto"5.
Muitas outras questões que afetam os dados provenientes de testes com animais não-humanos poderiam ser adicionadas aqui como, por exemplo, a influência do enriquecimento ambiental (veja artigo da New Scientist, (173[2333], 09 de mar.2002:11, intitulado "Home comfort for lab animals create problems for researchers"). Mas, afinal, que questões estariam no cerne de tais resultados caóticos?
Os modelos animais são imprecisos porque se constituem numa prática imersa no paradigma mecanicista e, portanto, reducionista, que se tornou hegemônico em nossa cultura. Tal paradigma encontra-se também inextricavelmente associado a uma ética antropocêntrica e especista. A oposição sujeito-objeto, base da pretensa descrição objetiva da natureza, é outra dicotomia que está no cerne do corpus formal do conhecimento em nossa sociedade e também na experimentação animal. Nela, toma-se um animal como modelo de estudo, sendo este analisado segundo suas supostas capacidades de prever ou reproduzir um determinado fenômeno. Dentro do paradigma mecanicista isso faria sentido, pois tratar-se-ia de analisar, compreender, ou identificar, um determinado mecanismo para depois verificar de que forma aquele mecanismo (genético, fisiológico, metabólico, etc) poderia ser usado para predizer outro, o organismo a ser modelado. Ocorre que os fenômenos sociais e naturais são muito mais complexos do que postulam as premissas da visão mecanicista, o que torna esse paradigma inadequado ou, no mínimo, muito limitado para descrever tal gama de complexidade (veja Maturana, 2002; Capra, 1996; Brügger, 2004, p.63-120).
Capra (1996), por exemplo, argumenta que há três critérios fundamentais para uma descrição abrangente da natureza da vida: o padrão de organização (a configuração de relações que determinam as características essenciais do processo); a estrutura (a incorporação física do padrão de organização do sistema); e o processo (a atividade envolvida na incorporação contínua do padrão de organização do sistema). Nessa visão, todos os sistemas vivos são sistemas cognitivos e a cognição sempre implica a existência de uma rede autopoiética, ou seja, a característica básica de uma rede viva é que ela produz continuamente a si mesma, ela se autocria (veja também Maturana, 2002). Esse processo de autocriação também influi na capacidade de formar novas estruturas e novos padrões de comportamento.
Assim, embora haja muitas características comuns entre nós e os outros animais, diferenças microscópicas entre as nossas células e as deles podem levar a erros grosseiros. Todas as espécies - plantas e animais - seguem o mesmo design: são formados pelas mesmas unidades de DNA (A,T,C,G) que são juntadas no mesmo processo. Mas, enquanto o material genético é o mesmo, a composição, os arranjos são diferentes. Isso faz toda a diferença.
O seguinte contexto - que envolve a semelhança entre nós e os chimpanzés - demonstra de forma inequívoca a razão de rechaçarmos o argumento reducionista de que tais animais são excelentes modelos. Segundo Greek & Greek (2003, p.49-50), "se examinarmos os genes que codificam proteínas que atuam como enzimas, ou provêem a base para estrutura, ou movimento celular, a semelhança entre nós e os chimpanzés é maior do que 99%. A diferença está, portanto, não nos blocos de construção, mas na forma como eles são arranjados e comandados por genes reguladores que controlam o padrão e o crescimento. Assim, por exemplo, uma única diferença num aminoácido, entre primatas humanos e não-humanos, faz com que o HIV não se acople ao mesmo receptor celular em primatas não-humanos".
Essa é a "dialética" da natureza. E é exatamente o que argumenta Capra, no parágrafo anterior (veja também Brügger, 2004, p.125-128).
Assim, o elevado grau de correspondência genética que há entre nós e tais modelos (como primatas e roedores) só faz sentido, em termos de confiabilidade, dentro de uma visão reducionista de ciência. Os animais não-humanos não podem ser considerados como bons "modelos analógicos causais" (CAMs). Segundo os filósofos Hugh La-Follete e Niall Shanks (1996) um modelo analógico causal funciona da seguinte forma: X (o modelo) é semelhante a Y (o objeto a ser modelado) com relação às propriedades {a....e}. X tem a propriedade adicional f. Embora não observada em Y, supõe-se que Y também tenha a propriedade f. Então, se a droga Z causa a morte do modelo animal (por exemplo, a penicilina mata porquinhos da Índia), por analogia, matará os humanos (veja Greek & Greek, 2003, p.45). La-Follete e Shanks (1996) afirmam que "os modelos analógicos causais teriam que apresentar também características comuns; conexões causais entre as características; e ausência de disanalogias relevantes. E afirmam que a possibilidade de haver disanalogias causais relevantes destrói o argumento de que as pesquisas com animais têm importância direta para o estudo de fenômenos biológicos humanos. Isso acontece porque, até que sejam feitos testes com humanos, não há como saber se existem ou não disanalogias relevantes entre nós e o modelo animal estudado. E há fortes razões teóricas para esperar que existam disanalogias causais relevantes. Animais humanos e não-humanos foram submetidos a pressões evolutivas muito distintas. O fato de duas espécies terem propriedades funcionais biológicas semelhantes não nos dá razão para pensar que elas tenham mecanismos causais subjacentes semelhantes. Embora os humanos não sejam ´essencialmente´ diferentes dos ratos, ou tampouco formas de vida ´mais elevadas´, somos diferentes em termos de complexidade. Diferenças entre as espécies, ainda que pequenas, freqüentemente resultam em respostas radicalmente divergentes com relação a estímulos qualitativamente idênticos. Diferenças evolutivas nos sistemas biológicos de humanos e roedores, por exemplo, desencadeiam um efeito cascata que resulta em marcadas diferenças em importantes propriedades biomédicas entre as duas espécies".
Portanto, a presença de pequenas diferenças no nível celular, como prega a Teoria da Evolução, invalida as extrapolações entre as espécies.
Compreendemos de forma muito limitada a pujança autopoiética da natureza, mas queremos exercer domínio sobre ela. Penso que as questões aqui colocadas devam, portanto, fazer parte do debate sobre a eficácia dos modelos animais como ferramentas de ensino e pesquisa. Isso porque os profissionais que deles se utilizam são, em tese, cientistas e estão produzindo conhecimento, além de estarem formando uma legião de seguidores de seus preceitos cientificamente questionáveis.
Embora hoje não seja mais possível negar a influência dos fatores aqui apontados - os quais concertados entre si podem produzir uma realidade completamente nova e inesperada, com a qual o cientista tem que lidar - os fundamentos epistemológicos subjacentes a tais processos, ainda se constituem numa questão considerada excessivamente abstrata. Entretanto, a aceitação de que há uma interdependência entre variáveis que não podem ser isoladas e estudadas em separado, ou quantificadas em termos de influência, faz parte da essência do método científico - mesmo o mecanicista - ainda que em menor extensão. Essa é uma questão muito mais profunda e crucial do que pode parecer, pois implica compreender verdadeiramente que o conhecimento construído é sempre uma abstração no sentido rigoroso do termo. E que algumas abstrações, ou metáforas, são mais adequadas do que outras para descrever determinadas realidades.
Dessa forma, salvo em casos nos quais os modelos animais tenham sido rigorosamente validados (mas isso implica a morte de milhões deles!), os dados corretos, aparentemente obtidos a partir de modelos animais, são, na verdade fruto da coincidência e do acaso, ou de pistas fornecidas por outros campos de pesquisa. Não refletem o resultado de uma empreitada verdadeiramente científica, uma vez que não implicam num conhecimento minucioso dos complexos mecanismos presentes nos processos estudados6. Tais acertos parecem refletir nada mais do que um pequeno percentual bem-sucedido de meras tentativas e, com isso, não diferem significativamente de outras situações como os índices de acerto em cestas de basquete, por exemplo, por parte de pessoas que não dominam tal esporte.
Urge, portanto, que façamos uma reflexão criteriosa acerca da manutenção desse paradigma ancorado em valores antropocêntricos e especistas. Não é razoável afirmar que é impossível prescindir dos modelos animais quando não há um investimento sistemático (nem em educação, nem em pesquisa) no uso de alternativas, sejam elas técnicas substitutivas ou alternativas no sentido lato (como bancos de dados clínicos, epidemiológicos e outras fontes de informação).
Finalmente, vale dizer que as críticas aos modelos animais fazem parte de uma crítica maior que diz respeito às visões de saúde e doença presentes na medicina que se tornou hegemônica, baseada na intervenção e não na prevenção. Tal visão faz parte de um paradigma que privilegia as soluções "farmaco" e "tecno"-lógicas, como de resto é a ótica dominante em nossa cultura (exemplo emblemático é o tratamento/cura proposto para as "mudanças climáticas" ora em curso). E, mais uma vez, a falta de visão sistêmica jaz na base de todas essas questões.
Notas
1 Seres sencientes são aqueles capazes de experimentar prazer, dor, alegria e outras sensações e emoções.
2 O termo vivissecção tem o significado de "cortar vivo". É empregado para designar a realização de operações ou estudos em animais vivos para observação de determinados fenômenos.
3 As primeiras são: câncer, doenças do coração e derrame (acidentes vasculares cerebrais).
4 Alguns fármacos citados por Archibald são o Baycol, o Rezulin, Propulsid, Opren, Eraldin.
5 Há ainda diferenças importantes entre machos e fêmeas, e entre linhagens e resultados de diferentes instituições.
6 Como os chamados "laços de realimentação" e outros mecanismos que podem atuar de forma auto-referencial nos modelos propostos.
Bibliografia
ARCHIBALD, Kathy. Animal testing: science or fiction? The Ecologist, maio. 2005: 14-17.
BARNARD, Neal & KAUFMAN, Stephen. Animal research is wasteful and misleading. Scientific American, fev. 1997. 80-82.
BRÜGGER, Paula. Modelos animais. In: Amigo Animal - reflexões interdisciplinares sobre educação e meio ambiente: animais, ética, dieta, saúde, paradigmas. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004: 63-120; 125-128).
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Trad. Newton Roberval Eichemberg. São Paulo, Cultrix, c1996.
FANO, Alix. Beastly practice. The Ecologist, vol 30 (3), maio, 2000: 24-28
GREEK, Ray C.& GREEK, Jean S. Sacred cows and golden geese - the human cost of experiments on animals. Foreword by Jane Goodall. New York/London: Continuum, 2000.
GREEK, Ray & GREEK, Jean. Specious Science: How Genetics and Evolution Reveal Why Medical Research on Animals Harms Humans. London, New York: Continuum, 2003.
LaFOLLETTE, Hugh & SHANKS, Niall. Brute Science: Dilemmas of Animal Experimentation. London: Routledge, 1996.
MATURANA, Humberto R.& VARELA, Francisco J.. A árvore do conhecimento - as bases biológicas da compreensão humana. 2ªed. Trad. Humberto Mariotti e Lia Diskin.São Paulo: Palas Athena, 2002.
REGAN, Tom. Defending animal rights. Chicago: University of Illinois Press, 2001.
SINGER, Peter. Ética Prática. 2ª ed. Trad. Jefferson L. Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1998.
Paula Brügger
Dom, 16 de Dezembro de 2007 00:00
Além de indefensável sob o ponto de vista ético, uma vez que submete seres sencientes1 ao sofrimento físico e psicológico (Singer, 1998; Regan, 2001), a vivissecção2 é uma prática que falha em pelo menos um critério fundamental para que seja considerada verdadeiramente científica: predictabilidade. Antes de tecer algumas considerações acerca das razões de ordem epistemológica subjacentes aos resultados pífios provenientes dos modelos animais, gostaria de remeter o leitor a alguns contextos e dados que ilustram a afirmação feita anteriormente.
No que diz respeito a medicamentos, por exemplo, apesar da enorme quantidade de cobaias mortos para supostamente assegurar a eficácia e testar os efeitos colaterais de novas drogas, Greek & Greek (2000, p.117) destacam que "segundo a organização Pharmaceutical Research and Manufacturers of America, apenas 1% dos novos medicamentos testados em laboratórios vão para o estágio clínico (em que são testados em voluntários humanos). Dos que chegam ao mercado, muitos apresentam sérios efeitos colaterais e riscos não previstos. "Uma revisão realizada pelo governo americano nas drogas lançadas entre 1976 e 1985 revelou que 51,5% delas ofereciam riscos não previstos nos testes" (Barnard & Kaufman, 1997, p.81). Greek & Greek (2000, p.58) destacam que, "a cada ano, dezenas de milhares de pessoas adoecem devido ao uso de fármacos legalmente vendidos. Archibald (2005), que argumenta no mesmo sentido, afirma ainda que os efeitos colaterais de medicamentos prescritos estão entre as primeiras causas de mortes no Ocidente3. Ela cita o caso recente do Vioxx - um fármaco para combater a artrite - que foi retirado do mercado global em setembro de 2004, após ter causado 140.000 casos de ataques cardíacos e derrames somente nos EUA. O fármaco, quando testado em animais não-humanos, se mostrou seguro e até benéfico para o coração deles. Outro exemplo que merece destaque é o das terapias de reposição hormonal. Prescritas para milhões de mulheres, porque diminuíam o risco de doenças cardíacas e derrame em macacos, tais terapias aumentaram significativamente o risco dessas doenças em mulheres e ainda provocaram 20.000 casos de câncer de mama. Archibald cita diversos outros fármacos que matam4 e Greek & Greek (2003, p.112-115) também apresentam uma longa lista de medicamentos retirados do mercado, na Grã-Bretanha e EUA, por conta dos seus gravíssimos efeitos colaterais (que incluem morte). Eles destacam que as drogas listadas representam uma pequena parte da calamidade total. A lista completa é quase inumerável, dizem eles, uma vez que muitos problemas sequer foram relatados.
E por que razão tais drogas são ineficazes e até perigosas? Porque os dados provenientes de testes com animais não-humanos são caóticos e não confiáveis. Eis um exemplo emblemático: "pesquisadores escolheram 6 drogas com efeitos colaterais conhecidos em humanos. Os testes com animais corretamente previram 22 efeitos colaterais, mas incorretamente apresentaram 48 efeitos que não ocorriam em humanos. E mais, os testes em animais não previram 20 efeitos colaterais que ocorrem nos humanos. Portanto, os modelos animais erraram 68 vezes em 90. Assim, em 76% das vezes, os resultados provenientes de experimentos com animais estavam errados" (Lumley and Walker apud Greek & Greek, 2003, p.111)
O modelo animal é falho porque existem diferenças, entre nós e eles, na anatomia, na fisiologia, nas interações ambientais, nos tipos de alimentos ingeridos, etc, que resultam na não-correspondência na absorção, distribuição e metabolismo de substâncias. Ademais, as condições de laboratório são mais controladas do que na vida humana e as doses administradas aos animais podem ser muito maiores do que as prescritas aos humanos, em termos de peso corporal. Portanto, fora o fato de que as vias de inoculação de diferentes substâncias - se oral, anal, peritonial, vaginal, etc - podem exercer uma grande influência sobre o resultado dos testes, a dosagem pode ser também um fator crucial.
Fano (2000), por exemplo, destaca que muitos testes com animais ocorrem em condições (dosagens, métodos, etc) que não têm similaridade com a vida real. Em um experimento envolvendo o adoçante ciclamato, os animais receberam o equivalente humano a 552 garrafas de refrigerantes por dia. Em dois experimentos com tricloroetileno (usado como agente descafeinizante em café) os ratos receberam uma dose equivalente a 50 milhões de xícaras de café por dia. Isso pode falsificar os resultados de duas maneiras: pode envenenar as células e tecidos, tão severamente, a ponto de prevenir uma resposta carcinogênica que em outras condições poderia ocorrer; ou pode sobrecarregar, ou mudar, os processos metabólicos e causar uma resposta carcinogênica que poderia não ocorrer, conclui ela.
Além disso, a velocidade do metabolismo dos animais é variável. Animais de laboratório são em geral menores do que os humanos e, com isso, têm um metabolismo muito mais intenso. Dessa forma, eliminam toxinas mais rapidamente do que os humanos, o que pode impedir que os efeitos tóxicos apareçam, como observa Fano.
Apesar de os vivisseccionistas afirmarem que ratos e camundongos se constituem em bons modelos para estudar doenças e outras condições ou males que acometem os humanos, há expressivas diferenças entre eles e nós. Segundo Greek & Greek (2003, p.121), "ratos respiram obrigatoriamente pelo nariz, o que pode alterar a forma de entrada de uma substância pela corrente sanguínea; a placenta é consideravelmente mais porosa nos ratos do que na espécie humana; devido a diferenças na distribuição da microflora intestinal, eles são muito mais propensos a metabolizar um composto administrado oralmente em um metabólito ativo, ou tóxico; a secreção de ácido no interior do estômago deles é contínua, enquanto no dos humanos ela ocorre apenas em resposta à presença de alimentos, ou outros estímulos. Os ratos são ainda animais de hábito noturno, susceptíveis a doenças diferentes das nossas, têm requerimentos nutricionais também diferentes e são incapazes de vomitar. Todas essas peculiaridades (anatômicas, fisiológicas, etc) afetam a absorção, a farmacocinética e o metabolismo de compostos, ou causam reações inesperadas com relação a um composto"5.
Muitas outras questões que afetam os dados provenientes de testes com animais não-humanos poderiam ser adicionadas aqui como, por exemplo, a influência do enriquecimento ambiental (veja artigo da New Scientist, (173[2333], 09 de mar.2002:11, intitulado "Home comfort for lab animals create problems for researchers"). Mas, afinal, que questões estariam no cerne de tais resultados caóticos?
Os modelos animais são imprecisos porque se constituem numa prática imersa no paradigma mecanicista e, portanto, reducionista, que se tornou hegemônico em nossa cultura. Tal paradigma encontra-se também inextricavelmente associado a uma ética antropocêntrica e especista. A oposição sujeito-objeto, base da pretensa descrição objetiva da natureza, é outra dicotomia que está no cerne do corpus formal do conhecimento em nossa sociedade e também na experimentação animal. Nela, toma-se um animal como modelo de estudo, sendo este analisado segundo suas supostas capacidades de prever ou reproduzir um determinado fenômeno. Dentro do paradigma mecanicista isso faria sentido, pois tratar-se-ia de analisar, compreender, ou identificar, um determinado mecanismo para depois verificar de que forma aquele mecanismo (genético, fisiológico, metabólico, etc) poderia ser usado para predizer outro, o organismo a ser modelado. Ocorre que os fenômenos sociais e naturais são muito mais complexos do que postulam as premissas da visão mecanicista, o que torna esse paradigma inadequado ou, no mínimo, muito limitado para descrever tal gama de complexidade (veja Maturana, 2002; Capra, 1996; Brügger, 2004, p.63-120).
Capra (1996), por exemplo, argumenta que há três critérios fundamentais para uma descrição abrangente da natureza da vida: o padrão de organização (a configuração de relações que determinam as características essenciais do processo); a estrutura (a incorporação física do padrão de organização do sistema); e o processo (a atividade envolvida na incorporação contínua do padrão de organização do sistema). Nessa visão, todos os sistemas vivos são sistemas cognitivos e a cognição sempre implica a existência de uma rede autopoiética, ou seja, a característica básica de uma rede viva é que ela produz continuamente a si mesma, ela se autocria (veja também Maturana, 2002). Esse processo de autocriação também influi na capacidade de formar novas estruturas e novos padrões de comportamento.
Assim, embora haja muitas características comuns entre nós e os outros animais, diferenças microscópicas entre as nossas células e as deles podem levar a erros grosseiros. Todas as espécies - plantas e animais - seguem o mesmo design: são formados pelas mesmas unidades de DNA (A,T,C,G) que são juntadas no mesmo processo. Mas, enquanto o material genético é o mesmo, a composição, os arranjos são diferentes. Isso faz toda a diferença.
O seguinte contexto - que envolve a semelhança entre nós e os chimpanzés - demonstra de forma inequívoca a razão de rechaçarmos o argumento reducionista de que tais animais são excelentes modelos. Segundo Greek & Greek (2003, p.49-50), "se examinarmos os genes que codificam proteínas que atuam como enzimas, ou provêem a base para estrutura, ou movimento celular, a semelhança entre nós e os chimpanzés é maior do que 99%. A diferença está, portanto, não nos blocos de construção, mas na forma como eles são arranjados e comandados por genes reguladores que controlam o padrão e o crescimento. Assim, por exemplo, uma única diferença num aminoácido, entre primatas humanos e não-humanos, faz com que o HIV não se acople ao mesmo receptor celular em primatas não-humanos".
Essa é a "dialética" da natureza. E é exatamente o que argumenta Capra, no parágrafo anterior (veja também Brügger, 2004, p.125-128).
Assim, o elevado grau de correspondência genética que há entre nós e tais modelos (como primatas e roedores) só faz sentido, em termos de confiabilidade, dentro de uma visão reducionista de ciência. Os animais não-humanos não podem ser considerados como bons "modelos analógicos causais" (CAMs). Segundo os filósofos Hugh La-Follete e Niall Shanks (1996) um modelo analógico causal funciona da seguinte forma: X (o modelo) é semelhante a Y (o objeto a ser modelado) com relação às propriedades {a....e}. X tem a propriedade adicional f. Embora não observada em Y, supõe-se que Y também tenha a propriedade f. Então, se a droga Z causa a morte do modelo animal (por exemplo, a penicilina mata porquinhos da Índia), por analogia, matará os humanos (veja Greek & Greek, 2003, p.45). La-Follete e Shanks (1996) afirmam que "os modelos analógicos causais teriam que apresentar também características comuns; conexões causais entre as características; e ausência de disanalogias relevantes. E afirmam que a possibilidade de haver disanalogias causais relevantes destrói o argumento de que as pesquisas com animais têm importância direta para o estudo de fenômenos biológicos humanos. Isso acontece porque, até que sejam feitos testes com humanos, não há como saber se existem ou não disanalogias relevantes entre nós e o modelo animal estudado. E há fortes razões teóricas para esperar que existam disanalogias causais relevantes. Animais humanos e não-humanos foram submetidos a pressões evolutivas muito distintas. O fato de duas espécies terem propriedades funcionais biológicas semelhantes não nos dá razão para pensar que elas tenham mecanismos causais subjacentes semelhantes. Embora os humanos não sejam ´essencialmente´ diferentes dos ratos, ou tampouco formas de vida ´mais elevadas´, somos diferentes em termos de complexidade. Diferenças entre as espécies, ainda que pequenas, freqüentemente resultam em respostas radicalmente divergentes com relação a estímulos qualitativamente idênticos. Diferenças evolutivas nos sistemas biológicos de humanos e roedores, por exemplo, desencadeiam um efeito cascata que resulta em marcadas diferenças em importantes propriedades biomédicas entre as duas espécies".
Portanto, a presença de pequenas diferenças no nível celular, como prega a Teoria da Evolução, invalida as extrapolações entre as espécies.
Compreendemos de forma muito limitada a pujança autopoiética da natureza, mas queremos exercer domínio sobre ela. Penso que as questões aqui colocadas devam, portanto, fazer parte do debate sobre a eficácia dos modelos animais como ferramentas de ensino e pesquisa. Isso porque os profissionais que deles se utilizam são, em tese, cientistas e estão produzindo conhecimento, além de estarem formando uma legião de seguidores de seus preceitos cientificamente questionáveis.
Embora hoje não seja mais possível negar a influência dos fatores aqui apontados - os quais concertados entre si podem produzir uma realidade completamente nova e inesperada, com a qual o cientista tem que lidar - os fundamentos epistemológicos subjacentes a tais processos, ainda se constituem numa questão considerada excessivamente abstrata. Entretanto, a aceitação de que há uma interdependência entre variáveis que não podem ser isoladas e estudadas em separado, ou quantificadas em termos de influência, faz parte da essência do método científico - mesmo o mecanicista - ainda que em menor extensão. Essa é uma questão muito mais profunda e crucial do que pode parecer, pois implica compreender verdadeiramente que o conhecimento construído é sempre uma abstração no sentido rigoroso do termo. E que algumas abstrações, ou metáforas, são mais adequadas do que outras para descrever determinadas realidades.
Dessa forma, salvo em casos nos quais os modelos animais tenham sido rigorosamente validados (mas isso implica a morte de milhões deles!), os dados corretos, aparentemente obtidos a partir de modelos animais, são, na verdade fruto da coincidência e do acaso, ou de pistas fornecidas por outros campos de pesquisa. Não refletem o resultado de uma empreitada verdadeiramente científica, uma vez que não implicam num conhecimento minucioso dos complexos mecanismos presentes nos processos estudados6. Tais acertos parecem refletir nada mais do que um pequeno percentual bem-sucedido de meras tentativas e, com isso, não diferem significativamente de outras situações como os índices de acerto em cestas de basquete, por exemplo, por parte de pessoas que não dominam tal esporte.
Urge, portanto, que façamos uma reflexão criteriosa acerca da manutenção desse paradigma ancorado em valores antropocêntricos e especistas. Não é razoável afirmar que é impossível prescindir dos modelos animais quando não há um investimento sistemático (nem em educação, nem em pesquisa) no uso de alternativas, sejam elas técnicas substitutivas ou alternativas no sentido lato (como bancos de dados clínicos, epidemiológicos e outras fontes de informação).
Finalmente, vale dizer que as críticas aos modelos animais fazem parte de uma crítica maior que diz respeito às visões de saúde e doença presentes na medicina que se tornou hegemônica, baseada na intervenção e não na prevenção. Tal visão faz parte de um paradigma que privilegia as soluções "farmaco" e "tecno"-lógicas, como de resto é a ótica dominante em nossa cultura (exemplo emblemático é o tratamento/cura proposto para as "mudanças climáticas" ora em curso). E, mais uma vez, a falta de visão sistêmica jaz na base de todas essas questões.
Notas
1 Seres sencientes são aqueles capazes de experimentar prazer, dor, alegria e outras sensações e emoções.
2 O termo vivissecção tem o significado de "cortar vivo". É empregado para designar a realização de operações ou estudos em animais vivos para observação de determinados fenômenos.
3 As primeiras são: câncer, doenças do coração e derrame (acidentes vasculares cerebrais).
4 Alguns fármacos citados por Archibald são o Baycol, o Rezulin, Propulsid, Opren, Eraldin.
5 Há ainda diferenças importantes entre machos e fêmeas, e entre linhagens e resultados de diferentes instituições.
6 Como os chamados "laços de realimentação" e outros mecanismos que podem atuar de forma auto-referencial nos modelos propostos.
Bibliografia
ARCHIBALD, Kathy. Animal testing: science or fiction? The Ecologist, maio. 2005: 14-17.
BARNARD, Neal & KAUFMAN, Stephen. Animal research is wasteful and misleading. Scientific American, fev. 1997. 80-82.
BRÜGGER, Paula. Modelos animais. In: Amigo Animal - reflexões interdisciplinares sobre educação e meio ambiente: animais, ética, dieta, saúde, paradigmas. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2004: 63-120; 125-128).
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Trad. Newton Roberval Eichemberg. São Paulo, Cultrix, c1996.
FANO, Alix. Beastly practice. The Ecologist, vol 30 (3), maio, 2000: 24-28
GREEK, Ray C.& GREEK, Jean S. Sacred cows and golden geese - the human cost of experiments on animals. Foreword by Jane Goodall. New York/London: Continuum, 2000.
GREEK, Ray & GREEK, Jean. Specious Science: How Genetics and Evolution Reveal Why Medical Research on Animals Harms Humans. London, New York: Continuum, 2003.
LaFOLLETTE, Hugh & SHANKS, Niall. Brute Science: Dilemmas of Animal Experimentation. London: Routledge, 1996.
MATURANA, Humberto R.& VARELA, Francisco J.. A árvore do conhecimento - as bases biológicas da compreensão humana. 2ªed. Trad. Humberto Mariotti e Lia Diskin.São Paulo: Palas Athena, 2002.
REGAN, Tom. Defending animal rights. Chicago: University of Illinois Press, 2001.
SINGER, Peter. Ética Prática. 2ª ed. Trad. Jefferson L. Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1998.
domingo, 22 de agosto de 2010
O DEPUTADO FELICIANO VIRÁ PARA SJC
REPASSEM PARA SEUS AMIGOS PROTETORES E SIMPATIZANTES DA CAUSA.
PROTETORES
O DEPUTADO FELICIANO VIRÁ PARA SJC NA
SEGUNDA-FEIRA (23/08) ÁS 18 HS
PARA UMA REUNIÃO COM A PROTEÇÃO.
O ENDEREÇO É:
AV CIDADE JARDIM, 2740 EDIFICIO CALIFORNIA BOSQUE DOS EUCALIPTOS, UM POUCO ANTES DE CHEGAR NO PORTÃO DO CONDOMINIO QUINTA DAS FLORES.
VAMOS TODOS COMPARECER NESSA REUNIÃO,NOSSA UNIÃO É MUITO IMPORTANTE.
CHEGA DE CONVERSA MOLE DESSA PREFEITURA.
QUEREMOS SOLUÇÃO.
OS ANIMAIS AGRADECEM!!!!!!!!!
MARILU
"TUDO QUE É PRECISO PARA O TRIUNFO DO MAL É QUE AS PESSOAS DE BEM NADA FAÇAM." (Edmund Burke)
PROTETORES
O DEPUTADO FELICIANO VIRÁ PARA SJC NA
SEGUNDA-FEIRA (23/08) ÁS 18 HS
PARA UMA REUNIÃO COM A PROTEÇÃO.
O ENDEREÇO É:
AV CIDADE JARDIM, 2740 EDIFICIO CALIFORNIA BOSQUE DOS EUCALIPTOS, UM POUCO ANTES DE CHEGAR NO PORTÃO DO CONDOMINIO QUINTA DAS FLORES.
VAMOS TODOS COMPARECER NESSA REUNIÃO,NOSSA UNIÃO É MUITO IMPORTANTE.
CHEGA DE CONVERSA MOLE DESSA PREFEITURA.
QUEREMOS SOLUÇÃO.
OS ANIMAIS AGRADECEM!!!!!!!!!
MARILU
"TUDO QUE É PRECISO PARA O TRIUNFO DO MAL É QUE AS PESSOAS DE BEM NADA FAÇAM." (Edmund Burke)
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
DEPUTADO FELICIANO VIRÁ PARA SJC! Importante!!!!!
REPASSEM PARA SEUS AMIGOS PROTETORES E SIMPATIZANTES DA CAUSA.
PROTETORES
O DEPUTADO FELICIANO VIRÁ PARA SJC NA
SEGUNDA-FEIRA (23/08) ÁS 18 HS
PARA UMA REUNIÃO COM A PROTEÇÃO.
O ENDEREÇO É:
AV CIDADE JARDIM, 2740 EDIFICIO CALIFORNIA BOSQUE DOS EUCALIPTOS, UM POUCO ANTES DE CHEGAR NO PORTÃO DO CONDOMINIO QUINTA DAS FLORES.
VAMOS TODOS COMPARECER NESSA REUNIÃO,NOSSA UNIÃO É MUITO IMPORTANTE.
CHEGA DE CONVERSA MOLE DESSA PREFEITURA.
QUEREMOS SOLUÇÃO.
OS ANIMAIS AGRADECEM!!!!!!!!!
MARILU
PROTETORES
O DEPUTADO FELICIANO VIRÁ PARA SJC NA
SEGUNDA-FEIRA (23/08) ÁS 18 HS
PARA UMA REUNIÃO COM A PROTEÇÃO.
O ENDEREÇO É:
AV CIDADE JARDIM, 2740 EDIFICIO CALIFORNIA BOSQUE DOS EUCALIPTOS, UM POUCO ANTES DE CHEGAR NO PORTÃO DO CONDOMINIO QUINTA DAS FLORES.
VAMOS TODOS COMPARECER NESSA REUNIÃO,NOSSA UNIÃO É MUITO IMPORTANTE.
CHEGA DE CONVERSA MOLE DESSA PREFEITURA.
QUEREMOS SOLUÇÃO.
OS ANIMAIS AGRADECEM!!!!!!!!!
MARILU
domingo, 15 de agosto de 2010
ACORDA SJC !!!!!!!!!!
AMIGAS PROTETORAS
ESSA MATÉRIA SAIU NO JORNAL DO CONSUMIDOR (ABRAM ANEXO).
LEIAM A MATÉRIA.
ESSE PROGRAMA COMEÇOU EM OUTUBRO DE 2009 E FORAM CASTRADOS ATÉ AGORA 351 ANIMAIS. UMA VERGONHA !!!!!!!!!!! ESTAMOS EM AGOSTO DE 2010.
A MATÉRIA DIZ QUE O OBJETIVO É ATINGIR 3.600 CASTRAÇÕES POR ANO. KKKKKKKKKKKK ESSA PREFEITURA É UMA PIADA.
NA MATÉRIA DIZ QUE É GRATUITA A CASTRAÇÃO. KKKKKKKKK OUTRA PIADA .
A PREFEITURA QUER ENGANAR A POPULAÇÃO COM ESSE TIPO DE MATÉRIA,ISSO É PROPAGANDA ENGANOSA.
SEMPRE COLOCAM AS ZOONOSES TRANSMITIDAS PELOS ANIMAIS AO HOMEM,MAS NUNCA COLOCAM AS MALDADES,OS ABANDONOS,AS CRUELDADES,AS OMISSÕES,OS GANHOS E EXPLORAÇÕES EM CIMA DOS ANIMAIS,QUE SÃO TRANSMITIDAS DO HOMEM PARA O ANIMAL.
ESTÁ NA HORA DE PARA DE TAMPAR O SOL COM A PENEIRA E MOSTRAR PARA O "SER HUMANO" QUE ELE NÃO É SUPERIOR A NENHUM ANIMAL,PELO CONTRÁRIO E O PIOR PREDADOR DA FASE DA TERRA,QUE DESTROI O SEU PRÓPRIO HABITAT.
TANTO É QUE O ÚLTIMO ANIMAL QUE DEUS COLOCOU NO MUNDO FOI O DITO CUJO,HOMEM.
ACORDA SJC !!!!!!!!!!!!
MARILU
"TUDO QUE É PRECISO PARA O TRIUNFO DO MAL É QUE AS PESSOAS DE BEM NADA FAÇAM." (Edmund Burke)
ESSA MATÉRIA SAIU NO JORNAL DO CONSUMIDOR (ABRAM ANEXO).
LEIAM A MATÉRIA.
ESSE PROGRAMA COMEÇOU EM OUTUBRO DE 2009 E FORAM CASTRADOS ATÉ AGORA 351 ANIMAIS. UMA VERGONHA !!!!!!!!!!! ESTAMOS EM AGOSTO DE 2010.
A MATÉRIA DIZ QUE O OBJETIVO É ATINGIR 3.600 CASTRAÇÕES POR ANO. KKKKKKKKKKKK ESSA PREFEITURA É UMA PIADA.
NA MATÉRIA DIZ QUE É GRATUITA A CASTRAÇÃO. KKKKKKKKK OUTRA PIADA .
A PREFEITURA QUER ENGANAR A POPULAÇÃO COM ESSE TIPO DE MATÉRIA,ISSO É PROPAGANDA ENGANOSA.
SEMPRE COLOCAM AS ZOONOSES TRANSMITIDAS PELOS ANIMAIS AO HOMEM,MAS NUNCA COLOCAM AS MALDADES,OS ABANDONOS,AS CRUELDADES,AS OMISSÕES,OS GANHOS E EXPLORAÇÕES EM CIMA DOS ANIMAIS,QUE SÃO TRANSMITIDAS DO HOMEM PARA O ANIMAL.
ESTÁ NA HORA DE PARA DE TAMPAR O SOL COM A PENEIRA E MOSTRAR PARA O "SER HUMANO" QUE ELE NÃO É SUPERIOR A NENHUM ANIMAL,PELO CONTRÁRIO E O PIOR PREDADOR DA FASE DA TERRA,QUE DESTROI O SEU PRÓPRIO HABITAT.
TANTO É QUE O ÚLTIMO ANIMAL QUE DEUS COLOCOU NO MUNDO FOI O DITO CUJO,HOMEM.
ACORDA SJC !!!!!!!!!!!!
MARILU
"TUDO QUE É PRECISO PARA O TRIUNFO DO MAL É QUE AS PESSOAS DE BEM NADA FAÇAM." (Edmund Burke)
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
MASSACRE DE ANIMAL Punição para uma crueldade
Caso Preta: decisão rara a favor dos animais
Uma notícia ótima...
MASSACRE DE ANIMAL
Punição para uma crueldade
A história de um massacre ganhou uma rara e exemplar punição na Justiça gaúcha. Em votação unânime, três desembargadores da 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado (TJ) condenaram um dos autores do assassinato da cadela Preta – amarrada a um carro e arrastada até a morte em Pelotas, há cinco anos – a indenizar a comunidade por danos morais coletivos.
O acórdão estabelece que Alberto Conceição da Cunha Neto terá de pagar R$ 6 mil, revertidos como doação para o canil municipal pelotense.
A decisão é rara por dois motivos. O primeiro é que o trio de desembargadores votou da mesma forma, num consenso que não costuma ser usual. Com isso, não cabe recurso à sentença no TJ e, se quiser recorrer, o advogado de defesa do condenado deverá apelar ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
A segunda excepcionalidade é que o “dano moral coletivo” reconhecido na condenação é uma novidade poucas vezes vista na história do Judiciário brasileiro. O STJ costuma negar a existência de “dano moral coletivo”.
Os desembargadores gaúchos foram na contramão dessa tendência. Cunha Neto tinha sido absolvido em primeira instância, em Pelotas, pela juíza Gabriela Irigon Pereira. Na sentença, ela considerou que o jovem já havia sido punido criminalmente, em outro processo (em 2007, foi sentenciado a um ano de detenção pelo crime, em regime aberto). Além disso, o rapaz – estudante da Universidade Católica de Pelotas – foi suspenso das aulas na faculdade, se mudou de município e teve uma parente dele agredida dentro do fórum daquela cidade, por pessoas indignadas com a morte do animal.
Os desembargadores levaram ontem 20 minutos para decidir. Numa sessão assistida apenas por três estudantes de Direito, o desembargador Armínio da Rosa lembrou que a cadela foi “desintegrada” ao ser arrastada por cinco quadras, “com pessoas assistindo”.
O desembargador José Francisco Moesch afirmou que a cadela Preta era estimada em Pelotas e sua morte, “por pura diversão”, gerou incredulidade e repulsa. A posição final veio do desembargador Genaro Baroni Borges, para quem a reparação financeira ajuda a “apagar a afronta a valores muito caros da comunidade pelotense”.
O defensor de Cunha Neto, Henrique Boabaid, não compareceu à sessão e não foi localizado por Zero Hora. Os outros dois jovens que participaram do massacre não foram processados porque se dispuseram a doar R$ 5 mil, cada, ao canil municipal de Pelotas.
HUMBERTO TREZZI - humberto.trezzi@ zerohora. com.br
A morte de Preta
* Estimada e adotada informalmente por frequentadores de um bar no centro de Pelotas, a cadela vira-latas Preta foi amarrada a um Ka e arrastada por cinco quarteirões, até a morte.
* O crime aconteceu em 9 de março de 2005. Os autores do massacre foram três jovens universitários. Eles disseram que o animal não parava de latir, admitiram que ataram o animal a um poste, mas negaram tê-lo arrastado de carro.
* O veículo pertencia a Alberto Cunha Neto, que foi condenado ontem por danos morais.
Zero Hora, 12 de agosto de 2010
Parabéns aos desembargadores Armínio da Rosa, José Francisco Moesch e Genaro Baroni Borges, que com seu exemplo nos dão esperança de uma sociedade mais justa e pacífica.
INR
Uma notícia ótima...
MASSACRE DE ANIMAL
Punição para uma crueldade
A história de um massacre ganhou uma rara e exemplar punição na Justiça gaúcha. Em votação unânime, três desembargadores da 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado (TJ) condenaram um dos autores do assassinato da cadela Preta – amarrada a um carro e arrastada até a morte em Pelotas, há cinco anos – a indenizar a comunidade por danos morais coletivos.
O acórdão estabelece que Alberto Conceição da Cunha Neto terá de pagar R$ 6 mil, revertidos como doação para o canil municipal pelotense.
A decisão é rara por dois motivos. O primeiro é que o trio de desembargadores votou da mesma forma, num consenso que não costuma ser usual. Com isso, não cabe recurso à sentença no TJ e, se quiser recorrer, o advogado de defesa do condenado deverá apelar ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
A segunda excepcionalidade é que o “dano moral coletivo” reconhecido na condenação é uma novidade poucas vezes vista na história do Judiciário brasileiro. O STJ costuma negar a existência de “dano moral coletivo”.
Os desembargadores gaúchos foram na contramão dessa tendência. Cunha Neto tinha sido absolvido em primeira instância, em Pelotas, pela juíza Gabriela Irigon Pereira. Na sentença, ela considerou que o jovem já havia sido punido criminalmente, em outro processo (em 2007, foi sentenciado a um ano de detenção pelo crime, em regime aberto). Além disso, o rapaz – estudante da Universidade Católica de Pelotas – foi suspenso das aulas na faculdade, se mudou de município e teve uma parente dele agredida dentro do fórum daquela cidade, por pessoas indignadas com a morte do animal.
Os desembargadores levaram ontem 20 minutos para decidir. Numa sessão assistida apenas por três estudantes de Direito, o desembargador Armínio da Rosa lembrou que a cadela foi “desintegrada” ao ser arrastada por cinco quadras, “com pessoas assistindo”.
O desembargador José Francisco Moesch afirmou que a cadela Preta era estimada em Pelotas e sua morte, “por pura diversão”, gerou incredulidade e repulsa. A posição final veio do desembargador Genaro Baroni Borges, para quem a reparação financeira ajuda a “apagar a afronta a valores muito caros da comunidade pelotense”.
O defensor de Cunha Neto, Henrique Boabaid, não compareceu à sessão e não foi localizado por Zero Hora. Os outros dois jovens que participaram do massacre não foram processados porque se dispuseram a doar R$ 5 mil, cada, ao canil municipal de Pelotas.
HUMBERTO TREZZI - humberto.trezzi@ zerohora. com.br
A morte de Preta
* Estimada e adotada informalmente por frequentadores de um bar no centro de Pelotas, a cadela vira-latas Preta foi amarrada a um Ka e arrastada por cinco quarteirões, até a morte.
* O crime aconteceu em 9 de março de 2005. Os autores do massacre foram três jovens universitários. Eles disseram que o animal não parava de latir, admitiram que ataram o animal a um poste, mas negaram tê-lo arrastado de carro.
* O veículo pertencia a Alberto Cunha Neto, que foi condenado ontem por danos morais.
Zero Hora, 12 de agosto de 2010
Parabéns aos desembargadores Armínio da Rosa, José Francisco Moesch e Genaro Baroni Borges, que com seu exemplo nos dão esperança de uma sociedade mais justa e pacífica.
INR
Ajudem esse animal!
Abandonaram no Buquirinha um Labrador macho puro, pelagem preta, deve ter um ano, quer brincar e chora por carinho. Ele está matando galinhas da região e os moradores falam em matá-lo.
Alguém pode ajudá-lo? Me comprometo a buscá-lo e vaciná-lo, porém não tenho onde colocar. O caso é urgente!
Podem ligar em meu telefone 9736-3266 ,após as 17:30 ou horário de meu almoço: 11:30 as 13 h.
Ajudem esse animal!
Grata
Eliana Meira
ABB Ass. Bicho Brasil
Alguém pode ajudá-lo? Me comprometo a buscá-lo e vaciná-lo, porém não tenho onde colocar. O caso é urgente!
Podem ligar em meu telefone 9736-3266 ,após as 17:30 ou horário de meu almoço: 11:30 as 13 h.
Ajudem esse animal!
Grata
Eliana Meira
ABB Ass. Bicho Brasil
sábado, 7 de agosto de 2010
Justiça paulista abre precedente ao emitir parecer contra a vivissecção
Justiça paulista abre precedente ao emitir parecer contra a vivissecção
Uma ação civil pública ajuizada pela Promotoria de São José dos Campos (SP), em 2004, contra o Centro de Trauma do Vale na Área de Saúde Ltda, responsável pelo curso ATLS (Advenced Trauma Life Support), que realizava experimentos de traumatologia com cães, terminou com termo de conciliação entre as partes. Isso porque a ré, representada pelo advogado Fabio K. Vilela Leite, aceitou o pedido do promotor e colunista da ANDA, Laerte Fernando Levai, firmado nos seguintes termos:
a) A requerida concorda com o pedido do representante do Ministério Público, no sentido de “abster-se o responsável pelo curso ATLS ou qualquer outro por ele promovido, sob qualquer sigla ou nome, de utilizar cães ou quaisquer outros animais em procedimentos experimentais que lhes causem lesões físicas, dor, sofrimento ou morte, ainda que anestesiados, seja em estabelecimentos públicos ou privados de São José dos Campos, a partir desta data”.
b) Do descumprimento – na eventualidade do descumprimento pela parte ré do ora acordado, noticiado e comprovado nos autos, haverá incidência de multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) com correção monetária pelos índices oficiais.
Referida decisão foi homologada pela juíza Ana Paula Theodosio de Carvalho, da 5ª Vara Cível de São José dos Campos, que assim decidiu: “Homologo, por sentença, o presente acordo a fim de que surta seus jurídicos e legais efeitos de direito. Por consequência, julgo o processo com resolução de mérito, com base no artigo 269, III, do Código de Processo Civil, homologando, ademais, a desistência recursal manifestada pelas partes”.
Vale lembrar que o curso ATLS, que treina médicos para situações de emergência, usava cães como modelos vivos para procedimentos de traumatologia. Durante o processo foram ouvidos, como testemunhas da promotoria, os médicos David Uip e Odete Miranda, a professora Irvênia Prada, os biólogos Sérgio Greif e Thales Trez e a advogada Vânia Rall. No dia designado para a audiência de defesa, 10 de março de 2010, o advogado da ré concordou em fazer o acordo e, ao reconhecer o pedido do Ministério Público, possibilitou o encerramento do processo.
Trata-se da primeira decisão judicial antivivisseccionista em nosso país, em decorrência de ação civil pública movida contra entidade da área médica. O processo tramitou perante a 5ª Vara Cível de São José dos Campos, sob o n. 577.04.252938-9.
Fonte: http://www.anda.jor.br/?p=78780
Uma ação civil pública ajuizada pela Promotoria de São José dos Campos (SP), em 2004, contra o Centro de Trauma do Vale na Área de Saúde Ltda, responsável pelo curso ATLS (Advenced Trauma Life Support), que realizava experimentos de traumatologia com cães, terminou com termo de conciliação entre as partes. Isso porque a ré, representada pelo advogado Fabio K. Vilela Leite, aceitou o pedido do promotor e colunista da ANDA, Laerte Fernando Levai, firmado nos seguintes termos:
a) A requerida concorda com o pedido do representante do Ministério Público, no sentido de “abster-se o responsável pelo curso ATLS ou qualquer outro por ele promovido, sob qualquer sigla ou nome, de utilizar cães ou quaisquer outros animais em procedimentos experimentais que lhes causem lesões físicas, dor, sofrimento ou morte, ainda que anestesiados, seja em estabelecimentos públicos ou privados de São José dos Campos, a partir desta data”.
b) Do descumprimento – na eventualidade do descumprimento pela parte ré do ora acordado, noticiado e comprovado nos autos, haverá incidência de multa diária no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) com correção monetária pelos índices oficiais.
Referida decisão foi homologada pela juíza Ana Paula Theodosio de Carvalho, da 5ª Vara Cível de São José dos Campos, que assim decidiu: “Homologo, por sentença, o presente acordo a fim de que surta seus jurídicos e legais efeitos de direito. Por consequência, julgo o processo com resolução de mérito, com base no artigo 269, III, do Código de Processo Civil, homologando, ademais, a desistência recursal manifestada pelas partes”.
Vale lembrar que o curso ATLS, que treina médicos para situações de emergência, usava cães como modelos vivos para procedimentos de traumatologia. Durante o processo foram ouvidos, como testemunhas da promotoria, os médicos David Uip e Odete Miranda, a professora Irvênia Prada, os biólogos Sérgio Greif e Thales Trez e a advogada Vânia Rall. No dia designado para a audiência de defesa, 10 de março de 2010, o advogado da ré concordou em fazer o acordo e, ao reconhecer o pedido do Ministério Público, possibilitou o encerramento do processo.
Trata-se da primeira decisão judicial antivivisseccionista em nosso país, em decorrência de ação civil pública movida contra entidade da área médica. O processo tramitou perante a 5ª Vara Cível de São José dos Campos, sob o n. 577.04.252938-9.
Fonte: http://www.anda.jor.br/?p=78780
não doem gatos pretos durante essas 2 semanas!
Pessoal das listas de proteção animal, abrigos e protetores independentes, por favor repassem esse recado para as listas de gatos!
A próxima sexta feira é dia 13, tenham muito cuidado ao doar gatinhos na semana que antecede essa data. Lembre-se que macumbas e rituais ainda são feitos com gatos pretos, galinhas e até cachorros, mas o gato é a bola da vez na sexta feira 13.
Quando alguem quiser adotar um gato preto digam que ele tem uma manchinha branca na barriga, ou uma medalhinha branca no pescoço ou nas patinhas e se a pessoa não se importar aí tudo bem, lembrando claro que todos os gatos pretos devem ser entregues castrados e quem doar deve entregar pessoalmente na casa da pessoa para ter uma impressão melhor da família.
Na dúvida, não doem gatos pretos durante essas 2 semanas!
Um abraço
Juliana Bussab
www.adoteumgatinho.org.br
www.adoteumgatinho.org.br/campanhadoagasalho --> tenho certeza que você pode ajudar a aquecer um gatinho ou cachorro carente neste inverno. Colabore!
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Na dúvida, não doem gatos pretos durante essas 2 semanas!
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Juliana Bussab
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010
A questão da utilização científica de animais e a formação dos comitês de ética
InfoSentiens
04/08/2010
A questão da utilização científica de animais e a formação dos comitês de ética
Sérgio Greif
A experimentação animal tem sido debatida em todo mundo. Biólogos, médicos e outros cientistas têm se levantado para se pronunciar a seu favor ou contra ela. Seus prós e contras tem sido apresentados, às vezes por uma abordagem científica, às vezes por uma abordagem ética. Auto-denominados "comitês de ética" tem sido criados com o objetivo de prontamente resolver a questão, conciliando todas as partes e tornando a experimentação aceitável pelo ponto de vista ético. Mas de que forma o cidadão comum, alheio às atividades acadêmicas, pode tomar parte nessa discussão? Tem ele o direito de opinar, não tendo suficientes conhecimentos de biologia, fisiologia, bioquímica e disciplinas afins?
O debate sobre a experimentação animal, ao contrário do que defendem muitos cientistas vivisseccionistas, não deve ficar restrito aos círculos acadêmicos. Este é um problema que envolve toda a sociedade e é justo que toda a sociedade participe de sua discussão. O salário do cientista provém dos impostos pagos pela população, que também paga pelos laboratórios e materiais utilizados em todos os procedimentos. É natural que a população tenha o direito de opinar sobre qualquer coisa que se passe em uma universidade. É importante que a população tenha consciência de todo o processo e de tudo o que existe por traz do discurso cientificista que pretende delegar o debate a poucos iniciados. É importante, acima de tudo, que a população se posicione, não apenas porque não concorda com o que se faz com os animais em nome da ciência, mas também porque não concorda com essa forma de ciência reducionista, que não apenas transforma seres vivos em coisas, mas também equipara sistemas diferentes como se fossem sistemas semelhantes, permitindo a extrapolação de dados obtidos de um sistema para todos os demais.
Não é à toa que em hospitais públicos os médicos tratem seus pacientes como números e que seus nomes sejam substituídos pelos nomes das doenças que lhes são diagnosticadas. O modelo de ciência que criamos induz que as coisas sejam assim. O ensino médico, tal qual estruturado, induz o estudante a acreditar que os seres vivos são 'coisas' e não é difícil entender porque que os médicos continuam tratando seus pacientes como coisas depois de formados. O cão nº 10 dos tempos de faculdade, no qual foi inoculado determinado vírus, torna-se o paciente nº 10 do hospital, que aparece no pronto-socorro com determinada virose.
Este é apenas um pequeno exemplo do que representa o viés, o efeito negativo da utilização de animais para o ensino e para a pesquisa. Mas nem de perto esse é o maior problema relacionado à experimentação animal. Ainda na esfera da discussão científica, a experimentação pretende ser uma segurança que em verdade não é. Constitui-se em um risco querer garantir à população a segurança de produtos apenas porque os mesmos foram testados em sistemas tão diferentes de seu organismo. A utilização de experimentos em animais jamais foi validada seguindo critérios científicos, os mesmos critérios exigidos para validar os métodos substitutivos. Tendemos a considerar os animais miniaturas de nós mesmos, mas esta é uma consideração empírica e não encontra eco na ciência. Não é por mera conjectura matemática, "regrinha de três", que conseguiremos transformar dados obtidos em ratos em dados aplicáveis a seres humanos. Em algum momento nessa cadeia de testes seres humanos terão de ser utilizados como cobaia, e é nesse momento que os dados serão, de fato, considerados válidos.
Embora a luta abolicionista tenha seus fundamentos na ética, ou seja, no direito dos animais em não serem explorados, a abolição da vivissecção deverá contar com uma argumentação mais embasada na ciência. É que sabemos que, num primeiro momento, o debate ético freqüentemente cairá na dicotomia "se eu posso comer frango, porque não posso testar em ratos?" ou "você preferia que usassem crianças em vez de cães?" É claro que essas perguntas merecem respostas tão simplórias quanto elas próprias. Seres humanos não deveriam poder comer frango, não devemos justificar um erro apontando para outro erro. E não, não estamos sugerindo que se use crianças ao invés de ratos, estamos sugerindo que se utilizem modelos corretos ao invés de modelos errados.
Uma discussão apenas pelo ponto de vista ético, se não estiver profundamente enraizado na teoria de direitos dos animais, poderá ainda derivar para distorções do tipo o conceito de que os 'animais de laboratório' recebem tratamento ético, visto que os procedimentos realizados com eles obedecem às leis de bem-estar animal e são devidamente aprovados por comitês de ética. Caberia aqui um questionamento sobre que leis são essas e no que se constituem os comitês de ética.
O Brasil possui leis bastante específicas no que se refere ao bem-estar de animais. A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), por exemplo, estabelece multas para quem abusar, maltratar, ferir ou mutilar animais (silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos) e é bastante específica em seu parágrafo único ao afirmar que "Incorre nas mesmas multas, quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. " Ou seja, essa lei, em uma leitura superficial, torna o uso prejudicial de animais na ciência e no ensino crime em todo o território nacional. Mas em verdade ela não o faz, porque condiciona a proibição à existência de recursos que até existem, mas não são conhecidos ou validados. Nenhum decreto estabelece quais recursos alternativos estão disponíveis e quais experimentos já não podem ser realizados. Cabe à boa vontade do cientista buscar alternativas e mesmo recusá-las se elas forem apresentadas por terceiros, porque ele pode simplesmente alegar que a alternativa não substitui a experiência que pretende conduzir. Ninguém melhor do que o cientista conhece os objetivos de seu experimento.
Também a Lei nº 6.638/79, que regulamenta a vivissecção de animais, proíbe a vivissecção em animais que não foram devidamente anestesiados, ou que os procedimentos ocorram em locais não apropriados, sem a supervisão de técnicos especializados ou em presença de menores de idade, entre outras coisas, mas não representa de fato um ganho à causa animal. Se basta anestesiar o animal para tornar o procedimento ético, quem poderá se opor à experimentação? E como comprovar que o animal de fato foi anestesiado se tudo é feito a portas fechadas? Deve-se confiar na palavra do cientista? E é mesmo relevante que nos contentemos em saber que os animais simplesmente estão sentindo menos dor, quando o problema central não é este? E a pergunta mais importante, talvez: se não há nada de errado com a experimentação animal, porque que ela não pode ser realizada na presença de menores de idade?
As leis no Brasil se dividem entre as 'que pegam' e as 'que não pegam'. As leis que pretendem impor comportamentos que de fato não condizem com o comportamento adotado pela população tendem a 'não pegar', por isso a idéia de que as campanhas para conscientizaçã o da população deveriam merecer mais atenção do que simplesmente a promulgação de leis. Leis apenas 'pegam' quando condizem com a vontade da maioria, ou de boa parcela da população.
No que diz respeito aos auto-proclamados "comitês de ética na experimentação animal", cabe iniciar dizendo que eles não servem aos princípios a que se propõem. Seu próprio nome não faz sentido, porque inspira-se nos "comitês de ética para experimentação em seres humanos', onde os seres humanos utilizados são sempre voluntários saudáveis ou pacientes reais, devidamente informados sobre os possíveis riscos do tratamento a que serão submetidos. No caso dos animais, eles jamais são voluntários e certamente não são informados sobre os riscos. Simplesmente sua utilização ocorre à revelia de sua vontade e apenas por aí sabemos que não há ética em sua utilização. Poderia-se falar em ética na experimentação de seres humanos prisioneiros de campos de concentração?
Mas muitos 'protetores de animais' bem intencionados e sinceros em suas convicções acabam aceitando fazer parte desses 'comitês de ética' acreditando que poderão auxiliar os animais. Fazer parte não significa adquirir algum poder, mas sim compactuar. Suponhamos um "comitê de ética" típico, composto por 7 pessoas, entre membros da instituição, pessoas da área de biológicas, exatas, humanas, leigos da sociedade civil e um membro da 'proteção animal'. Ainda que esse membro ligado á proteção animal seja firme em seu propósito de impedir determinado procedimento, ele será apenas 1 entre 7 pessoas. Voto vencido. Isso se ele mesmo não acabar cedendo à argumentação, convencido da necessidade da experimentação em animais.
Os 'comitês de ética' trazem um agravante para os propósitos da causa animal: Quando determinado procedimento é questionado pela sociedade (ou por um grupo em particular) o aval do comitê de ética é freqüentemente utilizado a favor da pesquisa, contra os animais. Os cientistas têm, com o aval em mãos, uma ferramenta para argumentar que naquela instituição os procedimentos são rigorosamente fiscalizados e aprovados, inclusive por membros das sociedades protetoras de animais. "Quem melhor do que um protetor de animais para saber o que é bom para os animais?"
Esse argumento, que atribui autoridade sobre a vida alheia a certos membros de nossa sociedade, é simplesmente inaceitável. Apenas ser sensível ao sofrimento alheio não nos torna aptos a avaliar a medida desse sofrimento. Não nos torna capazes de avaliar os pros e contras e decidir sobre o que aceitável e o que não é. Podemos fazer isso com nossas próprias vidas (talvez), mas não podemos estabelecer quanto de dor é suportável por um cão, ou quantos ratos podem ser mortos para obtermos determinada droga. Isso nada tem a ver com ética. O prejudicado e o possível beneficiado não são o mesmo sujeito, de que forma 'colocar isso na balança'. Que metodologia é essa a que tanto se tem recorrido? Poderíamos, seguindo ela, avaliar que o sacrifício de 1.000 mendigos saudáveis valeria para descobrir a cura para o mal de milhares de pessoas que sofrem de determinada doença degenerativa?
E quem é o protetor de animais que está nesse comitê e que pode decidir pela vida de tantos animais? Quem o investiu do poder divino para decidir pelo que é melhor para a vida de outros que não a sua própria, pela vida ou pela morte, quais procedimentos são inaceitáveis e quais são éticos, quais espécies podem ser usadas, qual seu número etc? Essa é a forma como acreditamos estar ajudando os animais? Não, não devemos conceber nem apoiar comitês de ética. Pelo contrário, eles são atualmente o maior trunfo da vivissecção e precisam ser combatidos como prejudiciais para a causa dos direitos dos animais.
Mesmo a alegação de que fazer parte de um comitê permite ao protetor saber o que se passa dentro da instituição não faz sentido. Não é fazendo parte do problema que encontramos sua solução, além disso, qualquer pessoa da sociedade tem o direito de acessar o que se passa em laboratórios de pesquisa, e isso é especialmente verdade em instituições públicas. Mesmo onde não existem comitês de ética é possível acessar os projetos submetidos às agências de fomento à pesquisa.
Mas por que meios a vivissecção pode ser efetivamente (tirei as vírgulas) combatida? É comum a idéia de que a abolição da exploração animal será um movimento que partirá da base para o ápice, do povo em direção aos governantes, e não o contrário. Não serão as leis que impedirão que animais sejam explorados. Tampouco os cientistas voluntariamente abdicarão do uso de animais, se fatores sociais e econômicos não os forçarem a buscar por isso. Apenas a vontade popular poderá provocar essa mudança. Cabe àqueles que já tem esse entendimento educar as pessoas no sentido de que percebam o problema em todos os seus aspectos. O povo, uma vez consciente de que a experimentação animal não resulta apenas na exploração de animais, mas também de prejuízos à saúde humana, tenderá a direcionar essa mudança, através da opção por produtos que não foram testados em animais e pelo boicote às empresas que perpetuam a exploração de animais. No caso do uso didático de animais, o caminho é mostrar para mais e mais estudantes que as aulas que empregam animais de forma prejudicial, além de se constituírem em práticas anti-éticas, não contribuem em nada com seu nível de aprendizagem. E quanto mais estudantes recusarem-se a participar de tais aulas, mais a instituição se verá forçada a buscar por outros métodos.
É interessante que a pessoa que defende a abolição da vivissecção conheça algo sobre os métodos substitutivos, também chamados métodos alternativos1. Esse conhecimento é especialmente útil para responder à pergunta "se não animais, vamos utilizar o que?" Alguns dos métodos substitutivos utilizados com maior freqüência incluem os testes in vitro (em tecidos, células animais, vegetais ou microorganismos) , a utilização de vegetais (quando possível), as simulações computacionais, os estudos clínicos em pacientes reais, os estudos não invasivos em voluntários, os estudos epidemiológicos, as técnicas fisico-quimicas, (espectrometria de massa, cromatografia, tomografia, etc), o estudo em cadáveres, a utilização de manequins especialmente criados para determinados procedimentos, de softwares educacionais, de filmes, de modelos matemáticos, a nanotecnologia, estudo observacional de animais, entre outras. Cada fim pretendido demanda a adoção de uma ou mais técnicas, e dentro destas técnicas há inúmeras possibilidades e variações.
Assim, por exemplo, um determinado teste toxicológico que demandaria vários animais pode, com sucesso, ser substituído por uma bateria de testes em células de diferentes linhagens e seguindo diferentes metodologias. É claro que a escolha destes testes não é aleatória e tem relação com os objetivos pretendidos. Técnicas fisico-químicas podem ser aplicadas para identificar os diferentes componentes da droga e desta forma refinar os testes. Modelos computacionais e matemáticos, bem como placentas obtidas junto a maternidades podem auxiliar a compreender, por exemplo, de que forma a droga se distribuirá pelo organismo e como será sua absorção.
Esse conhecimento sobre métodos substitutivos não é, porém, imprescindível nem determinante de sucesso em uma campanha. Ele apenas contribui bastante com o desenvolvimento das discussões no âmbito científico. Os ativistas não são obrigados a ter, na ponta da língua e de pronto, quais recursos substitutivos podem se aplicar a cada caso de pesquisa proposta pela academia, porque isso seria humanamente impossível. Cada pesquisador é pago para realizar sua pesquisa de acordo com as demandas da sociedade. Foi ele que estudou e se capacitou nesse sentido e é dele o interesse em obter resultados destes experimentos. O pesquisador, acima de tudo, é que tem que se familiarizar com os recursos substitutivos, e não esperar que anti-vivisseccionis tas os apresentem.
Um único departamento de uma boa faculdade desenvolve dezenas de projetos simultaneamente. Esse departamento é apenas um entre os vários da faculdade e essa faculdade é apenas uma dentro da universidade. Portanto, a gama de experimentos que ocorrem simultaneamente dentro de uma boa universidade é enorme e multiplique- se isso pelo número de universidades para termos uma idéia de que uma única pessoa ou instituição não poderia deter o conhecimento sobre todos os possíveis experimentos que poderiam ser realizados em animais para buscar por pelo menos um método substitutivo para cada um deles. O papel do anti-vivisseccionis ta é simplesmente o de exigir que esses métodos sejam implementados e jamais apoiar, de forma nenhuma, pesquisa com animais. Questionar sempre. Eventualmente, se dispuser de informações sobre recursos substitutivos essas poderão ser disponibilizadas para os cientistas, mas isto é uma contribuição e não uma obrigação que deve recair sobre o anti-vivisseccionis ta.
Além disso, devido à especificidade de cada linha de pesquisa, é possível que muitos métodos alternativos ainda precisem ser produzidos. Não porque sua técnica seja muito elaborada, mas porque possivelmente ninguém ainda tenha se preocupado em desenvolvê-los, visto que a metodologia somente interessa a quem dela faça uso.
O importante é que a graduação e especialização do cientista não devem intimidar o debatedor. É claro que o cientista melhor do que ninguém conhece sua linha de pesquisa, mas isso não desqualifica uma pessoa que queira debater a necessidade de utilização de animais. É questionável, inclusive, se a pesquisa é necessária caso o cientista seja incapaz de apresentar uma metodologia de pesquisa alternativa ao uso de animais. A sociedade não apenas pode se envolver nesse debate, ela deve, porque nele estão embutidos não apenas questões éticas, mas também questões relacionadas à saúde geral da população.
1 Nota do autor: "Cabe aqui discutir o emprego da palavra "alternativa" . Ainda que a utilizemos com grande freqüência, devido à sua consagração, convém deixar claro que esta palavra não é a mais adequada para designar os recursos e métodos substitutivos. A palavra "alternativas" desperta certa confusão entre as pessoas, levando muitos a crerem que se trate de "alternar" métodos substitutivos com experimentos realizados em animais. Além do mais, quando aceitamos que as técnicas que propomos são "alternativas" , estamos implicitamente aceitando que as técnicas que utilizam animais conduzem a bons resultados, o que não é o caso."
Sérgio Greif - sergio_greif@ yahoo.com
Biólogo, mestre em Alimentos e Nutrição, co-autor do livro "A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo" e autor de "Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável"
Artigo publicado na Pensata Animal nº 2 - Junho de 2007 - www.pensataanimal. net
04/08/2010
A questão da utilização científica de animais e a formação dos comitês de ética
Sérgio Greif
A experimentação animal tem sido debatida em todo mundo. Biólogos, médicos e outros cientistas têm se levantado para se pronunciar a seu favor ou contra ela. Seus prós e contras tem sido apresentados, às vezes por uma abordagem científica, às vezes por uma abordagem ética. Auto-denominados "comitês de ética" tem sido criados com o objetivo de prontamente resolver a questão, conciliando todas as partes e tornando a experimentação aceitável pelo ponto de vista ético. Mas de que forma o cidadão comum, alheio às atividades acadêmicas, pode tomar parte nessa discussão? Tem ele o direito de opinar, não tendo suficientes conhecimentos de biologia, fisiologia, bioquímica e disciplinas afins?
O debate sobre a experimentação animal, ao contrário do que defendem muitos cientistas vivisseccionistas, não deve ficar restrito aos círculos acadêmicos. Este é um problema que envolve toda a sociedade e é justo que toda a sociedade participe de sua discussão. O salário do cientista provém dos impostos pagos pela população, que também paga pelos laboratórios e materiais utilizados em todos os procedimentos. É natural que a população tenha o direito de opinar sobre qualquer coisa que se passe em uma universidade. É importante que a população tenha consciência de todo o processo e de tudo o que existe por traz do discurso cientificista que pretende delegar o debate a poucos iniciados. É importante, acima de tudo, que a população se posicione, não apenas porque não concorda com o que se faz com os animais em nome da ciência, mas também porque não concorda com essa forma de ciência reducionista, que não apenas transforma seres vivos em coisas, mas também equipara sistemas diferentes como se fossem sistemas semelhantes, permitindo a extrapolação de dados obtidos de um sistema para todos os demais.
Não é à toa que em hospitais públicos os médicos tratem seus pacientes como números e que seus nomes sejam substituídos pelos nomes das doenças que lhes são diagnosticadas. O modelo de ciência que criamos induz que as coisas sejam assim. O ensino médico, tal qual estruturado, induz o estudante a acreditar que os seres vivos são 'coisas' e não é difícil entender porque que os médicos continuam tratando seus pacientes como coisas depois de formados. O cão nº 10 dos tempos de faculdade, no qual foi inoculado determinado vírus, torna-se o paciente nº 10 do hospital, que aparece no pronto-socorro com determinada virose.
Este é apenas um pequeno exemplo do que representa o viés, o efeito negativo da utilização de animais para o ensino e para a pesquisa. Mas nem de perto esse é o maior problema relacionado à experimentação animal. Ainda na esfera da discussão científica, a experimentação pretende ser uma segurança que em verdade não é. Constitui-se em um risco querer garantir à população a segurança de produtos apenas porque os mesmos foram testados em sistemas tão diferentes de seu organismo. A utilização de experimentos em animais jamais foi validada seguindo critérios científicos, os mesmos critérios exigidos para validar os métodos substitutivos. Tendemos a considerar os animais miniaturas de nós mesmos, mas esta é uma consideração empírica e não encontra eco na ciência. Não é por mera conjectura matemática, "regrinha de três", que conseguiremos transformar dados obtidos em ratos em dados aplicáveis a seres humanos. Em algum momento nessa cadeia de testes seres humanos terão de ser utilizados como cobaia, e é nesse momento que os dados serão, de fato, considerados válidos.
Embora a luta abolicionista tenha seus fundamentos na ética, ou seja, no direito dos animais em não serem explorados, a abolição da vivissecção deverá contar com uma argumentação mais embasada na ciência. É que sabemos que, num primeiro momento, o debate ético freqüentemente cairá na dicotomia "se eu posso comer frango, porque não posso testar em ratos?" ou "você preferia que usassem crianças em vez de cães?" É claro que essas perguntas merecem respostas tão simplórias quanto elas próprias. Seres humanos não deveriam poder comer frango, não devemos justificar um erro apontando para outro erro. E não, não estamos sugerindo que se use crianças ao invés de ratos, estamos sugerindo que se utilizem modelos corretos ao invés de modelos errados.
Uma discussão apenas pelo ponto de vista ético, se não estiver profundamente enraizado na teoria de direitos dos animais, poderá ainda derivar para distorções do tipo o conceito de que os 'animais de laboratório' recebem tratamento ético, visto que os procedimentos realizados com eles obedecem às leis de bem-estar animal e são devidamente aprovados por comitês de ética. Caberia aqui um questionamento sobre que leis são essas e no que se constituem os comitês de ética.
O Brasil possui leis bastante específicas no que se refere ao bem-estar de animais. A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), por exemplo, estabelece multas para quem abusar, maltratar, ferir ou mutilar animais (silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos) e é bastante específica em seu parágrafo único ao afirmar que "Incorre nas mesmas multas, quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. " Ou seja, essa lei, em uma leitura superficial, torna o uso prejudicial de animais na ciência e no ensino crime em todo o território nacional. Mas em verdade ela não o faz, porque condiciona a proibição à existência de recursos que até existem, mas não são conhecidos ou validados. Nenhum decreto estabelece quais recursos alternativos estão disponíveis e quais experimentos já não podem ser realizados. Cabe à boa vontade do cientista buscar alternativas e mesmo recusá-las se elas forem apresentadas por terceiros, porque ele pode simplesmente alegar que a alternativa não substitui a experiência que pretende conduzir. Ninguém melhor do que o cientista conhece os objetivos de seu experimento.
Também a Lei nº 6.638/79, que regulamenta a vivissecção de animais, proíbe a vivissecção em animais que não foram devidamente anestesiados, ou que os procedimentos ocorram em locais não apropriados, sem a supervisão de técnicos especializados ou em presença de menores de idade, entre outras coisas, mas não representa de fato um ganho à causa animal. Se basta anestesiar o animal para tornar o procedimento ético, quem poderá se opor à experimentação? E como comprovar que o animal de fato foi anestesiado se tudo é feito a portas fechadas? Deve-se confiar na palavra do cientista? E é mesmo relevante que nos contentemos em saber que os animais simplesmente estão sentindo menos dor, quando o problema central não é este? E a pergunta mais importante, talvez: se não há nada de errado com a experimentação animal, porque que ela não pode ser realizada na presença de menores de idade?
As leis no Brasil se dividem entre as 'que pegam' e as 'que não pegam'. As leis que pretendem impor comportamentos que de fato não condizem com o comportamento adotado pela população tendem a 'não pegar', por isso a idéia de que as campanhas para conscientizaçã o da população deveriam merecer mais atenção do que simplesmente a promulgação de leis. Leis apenas 'pegam' quando condizem com a vontade da maioria, ou de boa parcela da população.
No que diz respeito aos auto-proclamados "comitês de ética na experimentação animal", cabe iniciar dizendo que eles não servem aos princípios a que se propõem. Seu próprio nome não faz sentido, porque inspira-se nos "comitês de ética para experimentação em seres humanos', onde os seres humanos utilizados são sempre voluntários saudáveis ou pacientes reais, devidamente informados sobre os possíveis riscos do tratamento a que serão submetidos. No caso dos animais, eles jamais são voluntários e certamente não são informados sobre os riscos. Simplesmente sua utilização ocorre à revelia de sua vontade e apenas por aí sabemos que não há ética em sua utilização. Poderia-se falar em ética na experimentação de seres humanos prisioneiros de campos de concentração?
Mas muitos 'protetores de animais' bem intencionados e sinceros em suas convicções acabam aceitando fazer parte desses 'comitês de ética' acreditando que poderão auxiliar os animais. Fazer parte não significa adquirir algum poder, mas sim compactuar. Suponhamos um "comitê de ética" típico, composto por 7 pessoas, entre membros da instituição, pessoas da área de biológicas, exatas, humanas, leigos da sociedade civil e um membro da 'proteção animal'. Ainda que esse membro ligado á proteção animal seja firme em seu propósito de impedir determinado procedimento, ele será apenas 1 entre 7 pessoas. Voto vencido. Isso se ele mesmo não acabar cedendo à argumentação, convencido da necessidade da experimentação em animais.
Os 'comitês de ética' trazem um agravante para os propósitos da causa animal: Quando determinado procedimento é questionado pela sociedade (ou por um grupo em particular) o aval do comitê de ética é freqüentemente utilizado a favor da pesquisa, contra os animais. Os cientistas têm, com o aval em mãos, uma ferramenta para argumentar que naquela instituição os procedimentos são rigorosamente fiscalizados e aprovados, inclusive por membros das sociedades protetoras de animais. "Quem melhor do que um protetor de animais para saber o que é bom para os animais?"
Esse argumento, que atribui autoridade sobre a vida alheia a certos membros de nossa sociedade, é simplesmente inaceitável. Apenas ser sensível ao sofrimento alheio não nos torna aptos a avaliar a medida desse sofrimento. Não nos torna capazes de avaliar os pros e contras e decidir sobre o que aceitável e o que não é. Podemos fazer isso com nossas próprias vidas (talvez), mas não podemos estabelecer quanto de dor é suportável por um cão, ou quantos ratos podem ser mortos para obtermos determinada droga. Isso nada tem a ver com ética. O prejudicado e o possível beneficiado não são o mesmo sujeito, de que forma 'colocar isso na balança'. Que metodologia é essa a que tanto se tem recorrido? Poderíamos, seguindo ela, avaliar que o sacrifício de 1.000 mendigos saudáveis valeria para descobrir a cura para o mal de milhares de pessoas que sofrem de determinada doença degenerativa?
E quem é o protetor de animais que está nesse comitê e que pode decidir pela vida de tantos animais? Quem o investiu do poder divino para decidir pelo que é melhor para a vida de outros que não a sua própria, pela vida ou pela morte, quais procedimentos são inaceitáveis e quais são éticos, quais espécies podem ser usadas, qual seu número etc? Essa é a forma como acreditamos estar ajudando os animais? Não, não devemos conceber nem apoiar comitês de ética. Pelo contrário, eles são atualmente o maior trunfo da vivissecção e precisam ser combatidos como prejudiciais para a causa dos direitos dos animais.
Mesmo a alegação de que fazer parte de um comitê permite ao protetor saber o que se passa dentro da instituição não faz sentido. Não é fazendo parte do problema que encontramos sua solução, além disso, qualquer pessoa da sociedade tem o direito de acessar o que se passa em laboratórios de pesquisa, e isso é especialmente verdade em instituições públicas. Mesmo onde não existem comitês de ética é possível acessar os projetos submetidos às agências de fomento à pesquisa.
Mas por que meios a vivissecção pode ser efetivamente (tirei as vírgulas) combatida? É comum a idéia de que a abolição da exploração animal será um movimento que partirá da base para o ápice, do povo em direção aos governantes, e não o contrário. Não serão as leis que impedirão que animais sejam explorados. Tampouco os cientistas voluntariamente abdicarão do uso de animais, se fatores sociais e econômicos não os forçarem a buscar por isso. Apenas a vontade popular poderá provocar essa mudança. Cabe àqueles que já tem esse entendimento educar as pessoas no sentido de que percebam o problema em todos os seus aspectos. O povo, uma vez consciente de que a experimentação animal não resulta apenas na exploração de animais, mas também de prejuízos à saúde humana, tenderá a direcionar essa mudança, através da opção por produtos que não foram testados em animais e pelo boicote às empresas que perpetuam a exploração de animais. No caso do uso didático de animais, o caminho é mostrar para mais e mais estudantes que as aulas que empregam animais de forma prejudicial, além de se constituírem em práticas anti-éticas, não contribuem em nada com seu nível de aprendizagem. E quanto mais estudantes recusarem-se a participar de tais aulas, mais a instituição se verá forçada a buscar por outros métodos.
É interessante que a pessoa que defende a abolição da vivissecção conheça algo sobre os métodos substitutivos, também chamados métodos alternativos1. Esse conhecimento é especialmente útil para responder à pergunta "se não animais, vamos utilizar o que?" Alguns dos métodos substitutivos utilizados com maior freqüência incluem os testes in vitro (em tecidos, células animais, vegetais ou microorganismos) , a utilização de vegetais (quando possível), as simulações computacionais, os estudos clínicos em pacientes reais, os estudos não invasivos em voluntários, os estudos epidemiológicos, as técnicas fisico-quimicas, (espectrometria de massa, cromatografia, tomografia, etc), o estudo em cadáveres, a utilização de manequins especialmente criados para determinados procedimentos, de softwares educacionais, de filmes, de modelos matemáticos, a nanotecnologia, estudo observacional de animais, entre outras. Cada fim pretendido demanda a adoção de uma ou mais técnicas, e dentro destas técnicas há inúmeras possibilidades e variações.
Assim, por exemplo, um determinado teste toxicológico que demandaria vários animais pode, com sucesso, ser substituído por uma bateria de testes em células de diferentes linhagens e seguindo diferentes metodologias. É claro que a escolha destes testes não é aleatória e tem relação com os objetivos pretendidos. Técnicas fisico-químicas podem ser aplicadas para identificar os diferentes componentes da droga e desta forma refinar os testes. Modelos computacionais e matemáticos, bem como placentas obtidas junto a maternidades podem auxiliar a compreender, por exemplo, de que forma a droga se distribuirá pelo organismo e como será sua absorção.
Esse conhecimento sobre métodos substitutivos não é, porém, imprescindível nem determinante de sucesso em uma campanha. Ele apenas contribui bastante com o desenvolvimento das discussões no âmbito científico. Os ativistas não são obrigados a ter, na ponta da língua e de pronto, quais recursos substitutivos podem se aplicar a cada caso de pesquisa proposta pela academia, porque isso seria humanamente impossível. Cada pesquisador é pago para realizar sua pesquisa de acordo com as demandas da sociedade. Foi ele que estudou e se capacitou nesse sentido e é dele o interesse em obter resultados destes experimentos. O pesquisador, acima de tudo, é que tem que se familiarizar com os recursos substitutivos, e não esperar que anti-vivisseccionis tas os apresentem.
Um único departamento de uma boa faculdade desenvolve dezenas de projetos simultaneamente. Esse departamento é apenas um entre os vários da faculdade e essa faculdade é apenas uma dentro da universidade. Portanto, a gama de experimentos que ocorrem simultaneamente dentro de uma boa universidade é enorme e multiplique- se isso pelo número de universidades para termos uma idéia de que uma única pessoa ou instituição não poderia deter o conhecimento sobre todos os possíveis experimentos que poderiam ser realizados em animais para buscar por pelo menos um método substitutivo para cada um deles. O papel do anti-vivisseccionis ta é simplesmente o de exigir que esses métodos sejam implementados e jamais apoiar, de forma nenhuma, pesquisa com animais. Questionar sempre. Eventualmente, se dispuser de informações sobre recursos substitutivos essas poderão ser disponibilizadas para os cientistas, mas isto é uma contribuição e não uma obrigação que deve recair sobre o anti-vivisseccionis ta.
Além disso, devido à especificidade de cada linha de pesquisa, é possível que muitos métodos alternativos ainda precisem ser produzidos. Não porque sua técnica seja muito elaborada, mas porque possivelmente ninguém ainda tenha se preocupado em desenvolvê-los, visto que a metodologia somente interessa a quem dela faça uso.
O importante é que a graduação e especialização do cientista não devem intimidar o debatedor. É claro que o cientista melhor do que ninguém conhece sua linha de pesquisa, mas isso não desqualifica uma pessoa que queira debater a necessidade de utilização de animais. É questionável, inclusive, se a pesquisa é necessária caso o cientista seja incapaz de apresentar uma metodologia de pesquisa alternativa ao uso de animais. A sociedade não apenas pode se envolver nesse debate, ela deve, porque nele estão embutidos não apenas questões éticas, mas também questões relacionadas à saúde geral da população.
1 Nota do autor: "Cabe aqui discutir o emprego da palavra "alternativa" . Ainda que a utilizemos com grande freqüência, devido à sua consagração, convém deixar claro que esta palavra não é a mais adequada para designar os recursos e métodos substitutivos. A palavra "alternativas" desperta certa confusão entre as pessoas, levando muitos a crerem que se trate de "alternar" métodos substitutivos com experimentos realizados em animais. Além do mais, quando aceitamos que as técnicas que propomos são "alternativas" , estamos implicitamente aceitando que as técnicas que utilizam animais conduzem a bons resultados, o que não é o caso."
Sérgio Greif - sergio_greif@ yahoo.com
Biólogo, mestre em Alimentos e Nutrição, co-autor do livro "A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo" e autor de "Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável"
Artigo publicado na Pensata Animal nº 2 - Junho de 2007 - www.pensataanimal. net
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Feliciano cobra o cumprimento da Lei 12.916/08 em São José dos Campos
Feliciano cobra o cumprimento da Lei 12.916/08 em São José dos Campos
9 julho 2010
Em atenção às solicitações de entidades de proteção animal atuantes em São José dos Campos, o deputado Feliciano Filho reuniu-se com o prefeito municipal, Eduardo Cury, nesta quinta-feira, 08 de julho. O parlamentar solicitou o cumprimento da Lei Estadual 12.916/08, de sua autoria, que dispõe sobre o controle populacional de cães e gatos nos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs) do Estado de São Paulo, especialmente no que tange a castração e identificação dos animais. A partir destas medidas, o deputado reforça a necessidade do Executivo firmar parcerias com as entidades locais para que sejam realizados programas de adoção.
Feliciano solicitou também ao prefeito que obrigue o CCZ a permitir a entrada de protetores de animais no local para viabilizar a fiscalização da lei vigente. Além disso, o parlamentar apelou para que sejam instituídos programas de esterilização e identificação em massa nos bairros.
O deputado ressalta a importância deste encontro, destacando a postura solícita de Cury. “O prefeito se mostrou sensível às nossas demandas. Ele se comprometeu a tomar providências, no sentido de envidar esforços para que a legislação seja cumprida e para que os programas de castração e identificação nos bairros sejam viabilizados”, declara.
9 julho 2010
Em atenção às solicitações de entidades de proteção animal atuantes em São José dos Campos, o deputado Feliciano Filho reuniu-se com o prefeito municipal, Eduardo Cury, nesta quinta-feira, 08 de julho. O parlamentar solicitou o cumprimento da Lei Estadual 12.916/08, de sua autoria, que dispõe sobre o controle populacional de cães e gatos nos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs) do Estado de São Paulo, especialmente no que tange a castração e identificação dos animais. A partir destas medidas, o deputado reforça a necessidade do Executivo firmar parcerias com as entidades locais para que sejam realizados programas de adoção.
Feliciano solicitou também ao prefeito que obrigue o CCZ a permitir a entrada de protetores de animais no local para viabilizar a fiscalização da lei vigente. Além disso, o parlamentar apelou para que sejam instituídos programas de esterilização e identificação em massa nos bairros.
O deputado ressalta a importância deste encontro, destacando a postura solícita de Cury. “O prefeito se mostrou sensível às nossas demandas. Ele se comprometeu a tomar providências, no sentido de envidar esforços para que a legislação seja cumprida e para que os programas de castração e identificação nos bairros sejam viabilizados”, declara.
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